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Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Snoop Not

30.09.20, Lástima

Segundo o Priberam, o dicionário de eleição da tua grammar nazi favorita, os vícios podem ser definidos como defeitos ou imperfeições, práticas frequentes consideradas pecaminosas ou dependências motivadas pelo consumo de determinadas substâncias. Okay, eu sei que isto mais parece uma aula de português, mas sinto que esta contextualização foi a forma ideal para abordar o tema que me sugeriram: cannabis. Oh sim, vamos falar do four twenty com antecedência - se bem que o Festival do Avante foi este mês e é quase a mesma coisa.

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Agora que ganhei o gostinho por tópicos polémicos, vamos lá falar das discussões que uma plantinha tão inocente causa.

LEGALIZAÇÃO: SIM OU SOPAS?

Se calhar sou uma pessoa muito ingénua que olha para o mundo de forma utópica, mas realmente não consigo perceber o mal tão grave sobre o consumo de cannabis. Na minha cabeça, a legalização do seu consumo tem mais "prós" que "contras", desde a supressão de economias paralelas a uma melhor fiscalização do que realmente é vendido - porque já ouvi dizer que há quem venda a plantita com misturas estranhas e isso, sim, é grave. Além disso, faz-me confusão saber que uma planta comprovadamente benéfica para determinados transtornos e que não é tão má quanto isso quando casualmente consumida é a linha que separa um vício aceitável de outros. Por que é que o açúcar, as gorduras processadas, o tabaco, o álcool são tão pouco controlados e quase incentivados a ser consumidos e queimar uma folha é punível na lei? (Já para não falar do paradoxo que é ser ilegal consumir erva no seu estado natural mas ser permitido comercializar todo e qualquer produto com o seu estrato. Não sei se já reparaste, mas vendem-se cerca de 459 produtos derivados da bela florzita enquanto a dita cuja continua a ser um tabu. Irrita-me solenemente).

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Depois há ainda outra questão (que se adapta a tantos outros temas fraturantes): quem apoia a legalização de algo não tem, necessariamente, de ser lesado relativamente ao assunto. Dando o meu exemplo - eu não fumo; mas isso não significa que tenho de ser contra as outras pessoas poderem fumar. Mas, claro, eu não fumo porque sou uma lástima.

A MENOS FUMADORA DA ALDEIA

É verdade. A pessoa super fixe que tu lês todas as quartas-feiras não sabe fumar. Chocante, não é? Eu sei que não é uma atividade particularmente difícil, mas a verdade é que a minha falta de jeito ultrapassa toda e qualquer possibilidade de eu ser uma fumadora com alto cenário. 

Até poderia não fumar por causa de todos os malefícios que a atividade implica, mas a verdade é muito simples:

1. Eu não sei sequer acender um isqueiro sem recear arder as minhas sobrancelhas assimétricas ou queimar o polegar.

2. Todo o ritual de inspirar, travar e expirar dá-me tosse e obriga-me a fazer figuras ridículas em público (especialmente numa altura de covid, onde partilhar as minhas gotículas é altamente desaconselhado).

3. Pegar num cigarro? Também não sei fazer. Acho que o meu corpo tem essa falha anatómica e não consegue agarrar num cigarro sem parecer uma patareca desengonçada.

Agora que dei a minha opinião sobre um tema tão controverso e tenho zero experiência no ramo farmacêutico, gostava de saber o que pensas. Legalizar a erva é assim tão prejudicial para a saúde ou toda esta discussão acontece sem um motivo suficientemente válido? Em termos de prejuízos para a saúde e para a carteira, qual é a diferença entre uma ganza e um bolo de chocolate com recheio de doce de leite e cobertura de açúcar? Deixa-me a tua opinião aqui nos comentários ou no nosso Instagram para podermos debater este assunto.

Só para o toque final, queria agradecer ao @desgr4cio pela sugestão do tema. Vemo-nos na próxima semana!

Dores de cabeça coletivas

23.09.20, Lástima

Estive a pensar bem na minha vida e não. Não estou preparada para deixar de falar de coisas relativas ao regresso às aulas. Se calhar é nostalgia a mais ou responsabilidades reais a menos, mas se há altura para eu falar disto é esta. Tenho de me debruçar sobre toda a camada de nervos que se apanha quando se fazem trabalhos de grupo.

Uma pessoa passa a vida a ouvir que os trabalhos de grupo são essenciais para nós enquanto futuros empregados e que é a sua conceção que nos permite adaptar a diferentes tipos de personalidade que podem (ou não) encaixar com a nossa. Está bem, eu percebo isso. Mas o foco aqui não é tanto a realização de um trabalho em grupo. O problema é que há grupos que, só por si, dão imenso trabalho.

Se tu fores daquelas pessoas sortudas que encontrou o seu grupo de trabalho ideal à primeira, este texto não é para ti. Aliás, nem sei como vieste aqui parar. Este blog destina-se a pessoas azaradas e que gostam de se queixar, por isso duvido que te consigas entreter neste post - a não ser que gostes de desgraça alheia.

Se tu, por outro lado, não te encaixares no perfil que acabei de descrever, então sabes que não é nada fácil encontrar o grupo perfeito para meter mãos à obra e sacar aquele 20. Sabendo como sou, consegues assumir que também já tive a minha quota parte de grupos desgraçosos - por isso mesmo, venho fazer o inventário de algumas personagens com quem já tive privilégio de cooperar (tanto na escola como em estágios e experiências de voluntariado).

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O ALTRUÍSTA

Quase que pode ser visto como o herói do grupo, mas temos de confessar: esta pessoa é a que fica com a infeliz tarefa de fazer tudo. Quem acaba por assumir este papel nem faz todo o trabalho de um ponto de vista controlador ou obsessivo - é mesmo porque tem o coração mole e, na tentativa de ajudar, cai sempre na esparrela dos colegas. Normalmente é uma pessoa absurdamente inteligente e ingénua que faz toda e qualquer tarefa sem questionar. Não sei quanto a ti, mas acho que vou acender uma velinha a Fátima por esta pessoa.

O FANTASMA

Claro que existe sempre o fantasminha brincalhão que é um grande charlatão. Não há uma única vez em que ele não exista dentro de um grupo. Quando se estão a formar os seus elementos, está presente e vivo da silva. Quando é para efetivamente fazer alguma coisa, é campeão nacional de ghosting.

O POLÍCIA DA MODA E O TEÓRICO

Esta dupla, quando junta, é poderosa. É quase como se fosse a miúda popular da escola com a nerd. Improváveis, mas pujantes. Ora vamos lá ver: ninguém, quando está a querer tratar da matéria de um trabalho, liga à sua estética. Está-se a borrifar para o espaçamento das linhas, para o enquadramento do texto, para o tamanho da letra, para as cores das bordas, enfim. Para tudo o que parece secundário. Só que não é. E é essa a magia que o polícia da moda dá nos trabalhos - aquele pózinho de perlim pim pim que embeleza qualquer revisão de literatura. Só que, e como deves estar a pensar, não é só de coisas bonitas que se faz um trabalho académico. Por isso, é aqui que entra o teórico, que coloca tudo nos termos científicos corretos (apesar de não estarem dispostos de forma tão bonita).

O MARCO DO BIG BROTHER

Não. Não me estou a referir ao episódio em que ele deu uma biqueirada na Sónia. Estou mesmo a falar da frase icónica que ditou no confessionário - «falam, falam, falam, falam mas não os vejo a fazer nada». Vá, pensa bem. Nunca conheceste alguém que diz que percorre mundos e fundos pelo trabalho mas, quando chega a hora, fez absolutamente zero? Infelizmente eu já. É que este tipo de pessoa é ainda pior do que aquele que não faz nada - o que não faz, não empata. Agora, dizer que vai fazer x, deixar todo o grupo descansado a confiar que aquela parte está a ser feita e depois perceber que, afinal de contas, ainda há muito por fazer só me dá voltas ao estômago.

O ANFITRIÃO

Na verdade, nem sei bem a função teórica que esta pessoa tem num trabalho de grupo. Mas, verdade seja dita: é quem dá sempre casa e refeição para que as coisas sejam feitas. Nem interessa se em termos académicos há qualquer contribuição - se houver massa carbonara à pala e bolachas de chocolate, essa pessoa já tem a sua tarefa cumprida.

O PRECOCE E O CONTRA-RELÓGIO

Calma, eu sei que o nome precoce pode parecer enganador e com duplo sentido. Mas estou a falar daquelas pessoas que gostam de ter tudo feito para ontem. Ou das que veem uma data agendada e têm tudo feito na semana anterior não vá o diabo tecê-las. Ou, por outras palavras, eu. Sim, não queria nada admitir para a Internet mas eu sou precoce. E, como deves calcular, pessoas como eu funcionam muito mal com os contra-relógio, que é como quem diz aquelas pessoas que lidam muito bem com fazer as coisas em cima da hora porque tudo há-de resultar. Enquanto uns querem provar que depressa e bem há quem, outros são da paz, da calma, do zen e da lentidão. Claro que juntar dois perfis assim é a receita para a desgraça.

O ILUSIONISTA

Esta pessoa é mais talentosa que o Mário Daniel. Se um ilunionista standart consegue tirar moedas da tua orelha, o ilusionista dos trabalhos de grupo é aquela alminha que te faz questionar como raio é que ainda não chumbou por faltas à cadeira. (Claro que irei descartar a possibilidade de haver alguém a assinar por eles nas folhas de presença, não é mesmo? Aqui não se chiba sobre comportamentos fraudulentos).

O DITADOR

Por fim, recordo-me do controlador passivo-agressivo. Tenho quase a certeza que consegues associar uma cara a este nome. Nunca tiveste uma pessoa que diz aceitar os teus contributos para o trabalho mas nunca os tem em consideração porque tem de ser tudo à sua maneira? As atitudes que tem nem costumam ser mega óbvias e são mascaradas com um sorriso amarelo, mas há que admitir que, no fim do dia, por muito que tenhas ideias, o ego dessa pessoa sobrepõe-se a tudo.

Até podia continuar esta lista interminável de seres, mas chegou a tua vez de me ajudares e comentar quem falta neste inventário de horrores. Os trabalhos de grupo, apesar de terem a sua utilidade, conseguem dar muitas dores de cabeça e acredito que não posso ser a única pessoa no mundo com queixas a fazer sobre esta prática deveras cruel para a minha sanidade mental. Por isso, quero que me digas tudo o que pensas aqui nos comentários ou no nosso Instagram para debatermos este assunto. Fico à tua espera!

Ponto final, parágrafo

16.09.20, Lástima

Como já deves ter reparado, eu escrevo com muitos pontos finais. Para mim é um sinal de pontuação que exprime frases declarativas e o cariz positivo, negativo ou neutro depende da entoação da frase e do contexto em que surge. Mas claro que nem sempre pensei assim. Por isso, hoje apetece-me desconstruir esta problemática - parece mesmo que sei do que estou a falar, não parece? Afinal de contas escrever com pontos finais é algo normal ou agressivo?

Confesso que antes eu era uma florzinha de estufa que se sentia atacada pela pontuação da língua portuguesa, mas com o passar do tempo aprendi a relativizar as coisas (pelo menos a tentar relativizá-las, porque a vertente "Drama Queen" do meu ser faz questão de não abandonar o meu corpo). Mas, apesar desta minha tentativa de postura madura, não dá para contornar um facto: os pontos finais são, quase sempre, mal vistos pela sociedade.

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PONTOS ENRAIVECIDOS

Quem é que não gosta de acabar aquela mensagem marota com um ponto final só para deixar o cônjuge ou a amiga intrigados? Vá, admite. Dá um gostinho especial escrever "Faz o que tu quiseres" com um ponto no fim em vez de sem. Não sei como é que uma pequena bola preta tem tanto impacto, mas não dá para fugir à raiva expressa que ela traz.

PONTOS OCASIONAIS

O problema desta coisa toda é que o ponto nem sempre aparece de forma intencional. Claro que dá muita mais pica mandá-lo assim de surra para mostrar o nosso desagrado, mas o corretor automático consegue ser mais rápido do que nós e coloca-o mesmo sem o querermos. Eu tento fazer o esforço para não ficar ofendida com isso - só fico confusa quando vejo aquele pessoal que coloca pontos finais depois de emojis. (Não sei se fazes parte desse clube, mas um ponto depois de um smile é só anticlimático).

PONTOS EXISTENCIAIS

Agora vamos para o sentido denotativo da coisa. Os pontos finais servem efetivamente para terminar frases declarativas - frases essas que são as que mais usamos em texto. Por isso, é assim tão ofensivo terminar uma mensagem com a devida pontuação? Quando eu tinha medo do ponto acabava por separar os meus pensamentos por vírgulas, reticências ou até pontos de exclamação, mas claramente que só torna o que escrevo numa maluquice. Se uso as vírgulas, pareço uma tonta que fala incessantemente e não sabe quando se calar. Se uso as reticências, todas as minhas mensagens parecem divagações filosóficas do Gustavo Santos. Se exclamo tudo o que digo, fico sem emoções a sério e mais parece que estou a gritar com alguém ou que fico demasiado entusiasmada com qualquer "olá" que me apareça.

Por isso, agora te pergunto: estás de que lado? Também achas que um ponto final não passa de um ponto ou sentes que torna toda e qualquer mensagem mais ríspida? Vem debater comigo aqui nos comentários ou no nosso Instagram. Espero por ti!

Senhor Chófer, por favor!

09.09.20, Lástima

Depois de ter escrito sobre 3 dos anos mais marcantes da minha vida, reparei que houve um grande pormenor que deixei escapar. Melhor, não o deixei escapar - eu não tinha espaço para contar tudo o que sinto sobre ele. Por fazer parte do dia-a-dia de tantos de nós, agora numa altura de supostos recomeços só faria sentido desabafar contigo algumas das peripécias que já sofri na sua presença. Enfim, vou-me deixar de rodeios porque está na hora de falar do suplício dos transportes públicos.

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Ora, como lástima lastimável, nos meus tempos de faculdade tinha o privilégio de frequentar, em média, 74 meios de transporte, fazendo um total de pelo menos 3 horas de viagem todos os dias (sim, estas 3 horas que te conto não são exagero). Por esse mesmo motivo, e multiplicando com os meus 3 anos em Lisboa, consegui viver muitos episódios caricatos naquele que é o mundo encantado das viagens coletivas.

COMBOIO 

Para começar, lembro-me já de estar no comboio - com a minha bela cara de zombie que acordou às 5 da matina e só queria voltar para o vale dos lençóis - e encontrar uma bela mademoiselle na estação do Fogueteiro a cortar as unhas dos pés dentro da minha carruagem. Sim, leste bem. Cortar. As unhas. Dos pés. Dentro do comboio. Até podia ter sido um sonho motivado pela minha privação de sono, mas (felizmente ou infelizmente) não fui a única a testemunhar aquele espetáculo de horrores.

Mas nem todas as senhoras no comboio são surpresas desagradáveis, atenção. Também já tive a sorte de ter uma velhota simpática a oferecer-me e à minha amiga podcaster - esta referência quase podia ser um momento patrocinado, mas é promoção espontânea, prometo - rebuçados. Ah pois! Ela gostou dos nossos ares simpáticos e quis-nos dar doces. Adorável, não é? Ou macabro? Na verdade não sei, porque nenhuma de nós tocou neles com medo de estarem envenenados, mas sinto que tanto uma como outra prefere manter na memória o gesto simpático do que a potencial tentativa de homicídio qualificado.

E para terminar a coletânea de histórias aleatórias no comboio, conto-te da vez em que esta querida desequilibrada em todos os sentidos estava a sair do dito meio de transporte e caiu. Podia ter caído para a frente ao sair da carruagem. Podia ter tropeçado num degrau sem ninguém ver. Podia ter feito tanta outra coisa não fosse eu um desastre com pernas. Pois bem, aqui a amiga, com o parar do comboio, estava em pé e caiu para trás, derrubando a pessoa que estava na fila, que derrubou a seguinte e assim sucessivamente. Resumidamente fui a autora de um efeito dominó humano que, ainda hoje, me dá vergonha alheia.

AUTOCARRO

Agora que te contei as minhas aventuras na linha férrea, está na hora de passar para os circuitos rodoviários, começando já pela primeira vez que andei de autocarro sozinha em Lisboa. Sendo, como referi, a minha primeira vez a lidar com o passe suburbano, tinha muito pouca noção dos caminhos que precisava de percorrer para cumprir a minha maratona diária de transportes públicos. Desse modo (como seria de esperar), entrei no autocarro errado. Quer dizer, eu tinha acertado no número do veículo. Mas errei no sentido. Resultado? Perdi-me em Lisboa e tive a oportunidade de conhecer o 751 Linda-a-Velha, onde me deparei com uma criança a entrar à pica e um velho a dar-lhe um raspanete. Okay, eu sei que o que te contei é muito pouco ou nada entusiasmante, mas acreditarias se te dissesse que, sem mais nem menos, eles começaram à pancada? Quando dei por mim, estava dentro de uma lata com rodas a assistir na primeira fila para a nova edição de UFC.

Fora este episódio traumatizante, as minhas viagens de autocarro nunca variaram muito. Desde a sobrelotação que me obriga a estar colada à axila mal-cheirosa do vizinho, à música aos altos berros dos mitras que ainda não sabem da existência de fones e às discussões emocionantes das peixeiras que pensam que o autocarro é o sítio ideal para ter dramas dignos de novela, a vida de um passageiro rodoviário consegue ser mais rotineira. Ah, mas não me posso esquecer daquele velhote que, de todos os locais, pensa que o banco do 723 Algés é onde deve descascar as suas laranjas.

Parece-me que hoje é tudo o que tenho para te dizer. Eu sei que não mencionei o metro, mas fico à espera que sejas tu a contar-me histórias absurdas que tenhas vivido nele ou noutros transportes que não apareceram aqui. Ou mesmo nestes - afinal de contas, cada transporte público é um portal para desgraça. Espero por ti aqui nos comentários ou no nosso Instagram para partilhares comigo os teus episódios. Até lá!

Eu vou, eu vou, para a faculdade eu vou

02.09.20, Lástima

Setembro é um mês de novos começos. Quase tão ou mais importante que o reveillon, é a altura em que novas etapas se iniciam. Uns voltam para a rotina, outros tentam estar a bordo do que vão ser os seus próximos meses (ou anos) e há sempre um misto de medo e entusiasmo. 

Para nós, pessoas mega jovens inconsequentes que ainda se encontram na rotina "casa-escola/faculdade", setembro é a altura do regresso tão esperado - até passarem duas semanas e voltarmos a morrer de saudades dos dias e noites de verão. Falando sobre as aulas, este mês também eu voltaria a essa prática constante dos meus dias. Mas, este ano, decidi parar. Até podia ser sobre isso que eu vinha falar (ou escrever), mas quero aproveitar este post para te contar a minha experiência na faculdade - pelo menos sobre os meus 3 anos de licenciatura.

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Como já não deve ser de estranhar, a tua lástima favorita vai fazer as listinhas do costume para ser mais fácil abordar cada aspeto.

CURSO

A escolha do curso, como podes imaginar, é dos aspetos mais importantes para que a tua experiência na faculdade seja a melhor. Um curso errado pode dar azo a uma vida universitária menos boa, mas não te podes esquecer que nem todos acertam à primeira e que não há mal em voltar a ser caloiro num curso com o qual te identifiques mais.

Aliás, até podes ter entrado no curso que querias mas numa faculdade que não esperavas. Numa situação dessas, o melhor que podes fazer é dar uma oportunidade a essa escola - pode ser que te surpreenda pela positiva (é que nem todas as universidades cuja média é mais alta são efetivamente as melhores para ti).

Por exemplo, eu entrei em Ciências da Comunicação no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa - também conhecido como ISCSP (uma faculdade cuja abreviatura poucos conseguem pronunciar). Mas a minha primeira opção seria o mesmo curso na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa - a FCSH - porque a média era mais alta e eu tinha a ideia pré-concebida de que as faculdades cuja nota de acesso fosse mais elevada eram as melhores e "de elite". Claro que eu estava redondamente enganada - e fui-me apercebendo disso não só pela experiência que tive no ISCSP como pelas experiências que ia ouvindo de amigos meus que entraram na FCSH. (Nada contra essa faculdade, eu apenas quero passar a ideia de que as notas de entrada não dizem tudo sobre o sítio que escolhemos e pensamos ser o melhor para nós).

PESSOAS

Seguindo a mesma linha de pensamento do ponto anterior, não te podes esquecer que a tua vida académica vai ser marcada, sobretudo, pelas pessoas. São elas que vão contribuir para as tuas futuras memórias felizes. Eu sei que pode parecer um pouco assustador: chegas a uma cidade nova (na maioria dos casos), entras num ritmo completamente alucinante e perdes-te no encantamento de tudo estar a acontecer ao mesmo tempo. Isso é completamente normal. E não serás, decerto, a única pessoa a passar por isso. Tens centenas de serzinhos como eu ou como tu que passaram ou estão a passar pelo mesmo, por isso não paniques. 

Uma das coisas mais giras da faculdade é a oportunidade que tens de conhecer gente de todos os cantos do país - e até do mundo. Vão surgir as amizades mais improváveis, os conflitos mais desnecessários, as ligações de curta duração e aquelas que vão durar uma vida. Tudo pode acontecer e é essa imprevisibilidade que torna toda esta experiência tão mágica (mesmo que não seja como os filmes a desenham).

FESTAS

Não te vou mentir. As festas da faculdade são tão míticas como dizem. Melhor que isso são mesmo os jantares de curso, onde vês toda a fofoca da semana a acontecer em direto. Gostaria de ter palavras para descrever o que é uma festa da faculdade, mas só consigo dizer que tem toda uma energia de outro mundo e que consegue tornar o funk mais azeiteiro numa música aceitável.

PRAXE

A praxe é um tópico polémico. Antes de entrar para a faculdade tinha imensos receios sobre o que poderia ser. Vi 583 vídeos de influencers e não influencers a contar as suas histórias e, após tanta pesquisa, acabei por criar uma imagem errada do que era. A verdade é que nem todas as praxes são magníficas. Mesmo que a praxe de um curso, no geral, seja fixe, haverão sempre dias menos bons em que te poderás sentir mais desconfortável. E estás no teu direito, como é óbvio. 

Quando entrei para a faculdade decidi experimentar. Diverti-me imenso na primeira semana. E na seguinte. E na a seguir a essa. E na outra. E na outra também. Passei por todas as etapas de um caloiro e não me arrependo de nenhuma (mesmo com a minha fobia a botões que quase me impediu de trajar). Se tive momentos maus? Sim, alguns. Mas o que me fez ultrapassá-los foi o segundo ponto de que te falei: as pessoas. Porque, para mim, isso é que é a praxe - é o grupo de pessoas que nos acolhem e deixam pertencer a uma tradição que pode ser reinventada para melhor se assim o quisermos.

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Com isto não quero dizer, de forma alguma, que é só através da praxe que podes conhecer pessoas com as quais te identifiques. Podes não gostar do tipo de atividades e conhecer os teus futuros bff's nas aulas, nos núcleos de alunos, nas festas ou até mesmo nos transportes. Peço-te só uma coisa: não excluas alguém só por pertencer a um "grupo" diferente do teu. Uma das coisas que lamento ter acontecido durante a minha experiência na faculdade foi a divisão entre membros da comunidade praxística e estudantes que apenas não se identificavam com isso. Ao te impedires de dar com alguém só porque tem (ou não) essa atividade extra-curricular, podes estar a perder uma pessoa incrível e a descartar uma possível amizade para a vida.

E acho que é isto que tenho para dizer. Resumir 3 anos tão intensos e tão marcantes numa página não é tão fácil quanto pensava, mas espero ter conseguido trazer a essência desta etapa tão importante na vida de alguns. Contudo, quero deixar um alerta: cada um tem o seu percurso e não deve ser delimitado ou comparado ao dos outros. Há quem decida seguir estudos mal acabe o secundário. Há quem prefira esperar um, dois ou três anos se assim o entender. Há, até, quem prefira não estudar e ter outras experiências. Todas são válidas. 

Decidi escrever este post porque licenciar-me sempre foi um grande desejo meu e gostaria de ter encontrado algo mais específico sobre tudo o que iria viver. Mas não quero, de forma alguma, condicionar a tua perceção sobre o teu futuro. E, por isso, está agora na hora de me contares a tua história. Fala-me de ti. Diz-me o que pensas sobre a faculdade, se já a acabaste, se vais para lá, se decidiste não ir, etc. Quero saber tudo! (Podia dizer onde me poderias deixar as tuas histórias, mas penso que já sabes).