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Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Ode a Tim Burton, o pai do Halloween

28.10.20, Lástima

Não sei quanto a ti, mas eu acho que o Tim Burton devia ser o dono do Dia das Bruxas. Apesar de, inconscientemente, ser o autor de alguns dos meus traumas de infância, sei que ele é indiscutivelmente talentoso e não haveria melhor data senão esta para homenagear as suas obras tão marcantes. Acho que Halloween não seria Halloween sem os seus filmes e, por isso, venho deixar a minha seleção ideal para uma maratona comemorativa do 31 de outubro.

Porém, primeiro quero explicar o porquê de me fascinar tanto pelo homem. Que é um ícone do cinema e um génio do stop motion já todos sabemos, é quase como se fosse um conhecimento universal completamente indiscutível. Mas o que mais me atrai nele é o facto de ser tão fiel à sua estética, torná-la tão sua e fazer com que o seu público se consiga colocar no papel de cada personagem. Talvez por ter sido ostracizado durante tanto tempo e ter combatido a solidão com criatividade, eu acredito que muitos de nós, incompreendidos, nos identifiquemos com ele. Além disso, é completamente maravilhoso o facto de conseguir, no meio de cenários aparentemente tão sombrios e macabros, ser leve e alegre. Um tanto paradoxal, eu sei, mas penso que esse é um dos fatores-chave que tornam toda a sua filmografia tão única.

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Agora que já consegui mostrar parcialmente a minha faceta fan-girl, está na hora das ditas sugestões - que estão ordenadas cronologicamente, não quisesse eu ser organizada. É provável que já os tenhas visto a todos pelo menos uma vez na vida, mas agora que o covid nos obriga a estar mais tempo em casa, até é giro viajar pelos caminhos da nostalgia.

EDUARDO MÃOS-DE-TESOURA (1990)

Haverá melhor dupla cinemática que Tim Burton e Johnny Depp? Claro que não. Por isso, vou começar já por ela. Para quem não conhece, esta é a história de alguém - porque eu não sei se se pode dizer que é humano - chamado Edward, ou Eduardo como o bom português diria. Quase que poderia ser um "menino" normal, não fosse o facto de, em vez de ter mãos, ter tesouras. Como podes calcular, todos os que se cruzariam com ele morreriam de medo - o que é uma pena, pois ele não passa de uma alma incompreendida que apenas quer expressar a sua arte mas é vista como uma aberração. Contudo, e para dar aqui um pozinho romântico, há uma menina que se torna sua amiga, combatendo os estigmas de que Edward é alvo. Fofinho, não é?

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O ESTRANHO MUNDO DE JACK (1993)

Antes de mais vou já falar do elefante na sala. Sim, este filme tem o título pessimamente traduzido. Para quem gosta de línguas, acredito que ler isto seja um soco no estômago, mas eu não consegui evitar trazer esta peça à baila. Se o filme podia ter sido chamado "O Pesadelo Antes do Natal"? Podia. Mas não era a mesma coisa. 

Agora que já resolvemos esta picardia, vou passar à apresentação da obra. Na realidade, apesar da temática halloweenesca, este filme mostra uma realidade presente, pelo menos nas ruas nacionais. Tem a música mais emblemática do Dia das Bruxas, mas convenhamos: aquela 1h10 representa na perfeição o facto de, em pleno outubro, as ruas já estarem todas decoradas com ornamentos natalícios. Para quem está confus@ com o que disse, digamos que este filme é um jogo do telefone avariado entre as duas festividades.

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A NOIVA CADÁVER (2005)

E como se um filme com a participação do querido Johnny não fosse suficiente, tenho mais um para ti. Desta vez é sobre um triângulo amoroso passado num destino vitoriano que se cruza com o mundo dos mortos. Claro que poderia ser um romance cliché com uma paisagem de fundo sombria mas, verdade verdadinha, acaba por revelar um final de empoderamento feminino que deixa o meu coração enternecido. Porque as raparigas, nem depois de mortas, devem depender de um rapaz para ser feliz - e o mesmo se aplica ao contrário.

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FRANKENWEENIE (2012)

Não sei se já tinha dado a entender, mas eu sou uma dog person. Talvez por isso quis terminar a lista com um cão fofinho - tendo em conta o universo sombrio em que estamos. Num resumo muito resumido, este filme conta a história de Victor, um menino que perdeu o seu cão mas recusou-se a viver sem ele (quem nunca?). Por isso, deu uma de génio maléfico e ressuscitou o canito, desta vez em modo zombie. Se é uma adaptação quase cara-chapada do "Frankenstein"? Sim. Mas é muito mais adorável e há quem diga até que este filme é uma prequela do "Noiva Cadáver" - mas esses são outros quinhentos.

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Com esta coisa do bicho que anda à solta e consequente impossibilidade de andar a brincar ao doçura ou travessura, aliada ao facto de andar a chover e não haver nada melhor do que ficar em casa enroscad@ numa manta a ver filmes, achei por bem fazer esta lista. Se os dias fossem eternos e não tivéssemos mais que fazer, eu incentivava-te a ver todas as obras deste homem. Mas como temos de fingir que a vida é mais do que apreciar bom cinema, é melhor terminar por aqui. Por isso, agora te pergunto: qual destes filmes já conhecias, qual o teu favorito e qual aquele que devia fazer parte deste post? Espero por ti nos comentários!

Portal da Queixa 2.0

21.10.20, Lástima

A vida até pode conseguir ser bela e amarela, mas admitamos: nem tudo é um mar de rosas. E como eu já percebi que a vocação deste blog é ser o meu livro de reclamações de assuntos mundanos e que parecem não interessar a ninguém (apesar de uma parte de mim preferir acreditar que existem mais lástimas rabugentas neste mundo cruel, mas foram apoderadas pela vergonha), decidi listar alguns ódiozitos de estimação que tenho perante a generalidade humana.

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AÇACINAR A GARMÁTICAH

Doeu ler isto, não doeu? Acabaste de presenciar um homicídio qualificado perante a língua portuguesa. Honestamente, nem sei se me entristece mais do que irrita. Fico na constante dúvida se o que sinto cada vez que vejo uma calinada é uma dor forte no abdómen ou fumo a sair-me dos ouvidos.

De vírgulas a separar o sujeito do predicado, acentos mal dados, acrescentos de letras que não deviam ser acrescentadas, não distinção entre uma palavra com ou sem hífen, formas verbais mal conjugadas até à criação de um novo léxico, tudo isto me faz esbugalhar tanto os olhos de choque que mais parece que eles vão explodir. Claro que todos somos humanos e cometemos erros (eu também os faço), mas há uma diferença entre uma mera gafe e ignorância. E isso, meu caro leitor, é-me imperdoável.

Talvez por eu me ter formado em comunicação e ter uma paixão tão intensa pela escrita que me dói mais na alma sempre que vejo alguma metamorfose errática no que toca a ortografia, gramática e até fonética. Mas não consigo evitar. Especialmente com a facilidade que temos através dos corretores automáticos, como raio é que há tanta palavra mal escrita?

Ah, e não me posso esquecer de uma das espécies raras que mais assassina a língua portuguesa: aquelas pessoas que passam a vida a dizer que a disciplina que ensinaria estes trogloditas a expandir o seu vocabulário é totalmente inútil porque - e prepara-te para um dos argumentos mais wtf de sempre - somos portugueses e, por isso, já sabemos falar português. Como se isso fosse condição obrigatória para dominar uma língua, Sandro! Pois é. Há serzinhos que acreditam mesmo nisto. Mas depois escrevem ouvis-te em vez de ouviste...

COMPORTAMENTOS HUMANOS AUDÍVEIS

Claro que este tópico tem um nome muito vago, mas vou agora explicar. Estás a ver quando alguém bebe alguma coisa, está a comer ou engole em seco? Eu fico doida a ouvir isso. Se sei que é algo completamente natural e incontrolável porque não podemos apenas diminuir o som do nosso mastigar? Sei. Mas se dá cabo de mim conseguir ouvir toda a formação do bolo alimentar? Dá. E muito.

Parte de mim até se sente mal por ficar tão irritada com algo tão comum. Uma coisa, claro, é ouvir o mastigar de alguém sem maneiras e que prefere comer de boca aberta - coisa terrível que, para mim, era alvo de pena de prisão. Outra coisa é uma pessoa estar no seu canto, a comer com bons modos mas, ainda assim, fazer um barulhão. O meu "eu" racional sabe que não é por mal. Só que o meu "eu" emocional entra em parafuso e foge a sete pés do sítio onde está só mesmo para não sofrer mais.

DIÁLOGOS INTERROMPIDOS E CONVERSAS EM MODO "DISCO RISCADO"

Eu sei que as interações humanas não funcionam com monólogos. Mas se há coisa que me faz perder as estribeiras é que me interrompam. Sempre ouvi dizer que quando um burro fala, o outro baixa as orelhas, por isso não entendo o desplante que alguns seres vivos têm ao interromper o discurso de outra pessoa. É que este ódio de estimação ultrapassa-me. Mesmo quando oiço alguém a ser interrompido fico irritada, não fosse eu uma tentativa de boa samaritana defensora da igualdade. 

Ainda no âmbito das conversas, também perco a paciência com discursos repetidos. Esta irritação acaba por ser um tanto ou quanto hipócrita porque eu devo ter um pseudo-Alzheimer precoce autodiagnosticado que me impede recordar o que digo, de forma que eu própria sou bastante repetitiva. Contudo, não consigo evitar a minha raiva quando falo com alguém que diz sempre a mesma santíssima coisa. Parece que o botão de play na sua cabeça ficou encravado e a variedade de temas para falar ou histórias para contar se dizimou. Repetir uma vez é normal. Repetir duas, apesar de chato, continua compreensível. Repetir 40 vezes? Já não me é suportável. 

RAIVA RODOVIÁRIA

Por muito chocante que possa parecer, dada a extensão e conteúdo desta lista, eu nem odeio trânsito. Apesar de não adorar, não é algo assim tão mau para mim porque gosto demasiado de conduzir e qualquer pára-arranca se torna suportável quando se tem boa música. Contudo, porém, não obstante, o que me chateia são maus condutores.

Eu sei que posso não ser propriamente uma Maria Teresa de Filippis mas sei, por exemplo, que quem sai na terceira saída de uma rotunda não a deve fazer por fora e que os quatro piscas não se tornam num manto de invisibilidade quando se está parado em segunda fila.

Como podes reparar, sou uma pessoa bastante paciente e pouco irritável - numa realidade alternativa, só pode. Provavelmente até ficaste com a sensação de que estar comigo ao vivo deve ser um suplício porque odeio tudo. Isso até está perto da verdade, mas prometo que, quando estou de bom-humor, consigo ser mais simpática e tolerante. Se, por outro lado, tiveres alguma queixa a acrescentar, és mais que bem-vind@ à caixinha de comentários e/ou ao nosso Instagram. Espero por ti!

Dia Internacional do que nunca deve ser deixado para trás

14.10.20, Lástima

Acho que este, pelo menos até à data, é o post mais difícil que escrevi. Não por ser um tema complexo (coisa que é) ou por eu não ter formação sobre o que vou publicar aqui (coisa que, efetivamente, não tenho). Mas, apesar da falta de conhecimento académico, tenho sentimentos e, por isso, não queria que o dia 10 de outubro fosse deixado para trás.

Esta data, para quem não conhece o seu significado, assinala o Dia Internacional da Saúde Mental. Desta forma, e por ser um tema que me é tão próximo, quis prestar a homenagem que o meu léxico permite. Esta semana não quero entreter, fazer rir ou sorrir nem queixar-me de assuntos mundanos e sem importância. Hoje quero escrever sobre algo importante e, se tiver algum dia esse poder, alertar quem leia isto a ser mais empático e compreensivo, uma vez que nunca sabemos a condição do outro.

Quando eu estava no 11.º ano, creio, foi-me apresentado um poema de Fernando Pessoa ortónimo que, de certo modo, consegue ser a metáfora perfeita para explicar algo tão raro mas tão necessário - e sim, nem em assuntos sérios eu consigo deixar de tentar dar aulas de português. "Autopsicografia". O nome é-te familiar? Pois bem, esta é a obra de um poeta que, em apenas 12 versos, fez com que eu retirasse uma das conclusões mais importantes da minha vida.

"O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve, / Na dor lida sentem bem, / Não as duas que ele teve, / Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda / Gira, a entreter a razão, / Esse comboio de corda / Que se chama coração." 

Poesias. Fernando Pessoa (s.d.)

Podem parecer conclusões óbvias, mas foi no momento em que li estas estrofes que tive uma epifania. Nós, realmente, temos 3 tipos de dor: a dor sentida, a dor que expressamos ao outro e a dor que o outro interpreta. E todas elas, apesar de quererem representar o mesmo, são completamente diferentes.

Deves estar a perguntar neste momento o que raio um poema de Fernando Pessoa tem a ver com saúde mental. Compreensível. E eu, numa tentativa de te responder, pergunto-te se já tinhas chegado à conclusão que cheguei com ele. Quatro versos dizem muito e, acima de tudo, mostram que nunca iremos conseguir sentir a dor do outro. Por isso, o melhor que temos a fazer é tentar. Ouvir o que quem sofre tem a dizer e tentar perceber o que sente, por muito absurdo ou exagerado ou melodramático que possa parecer. Ser empátic@. Compreender que o que para uns é indiferente, para outros é doloroso. 

Numa era em que se fala de tanta coisa, não podemos continuar a achar que um braço partido é mais urgente que uma depressão. Não podemos comparar sequer o que é um olho negro a um ataque de ansiedade. São incomparáveis. Não podemos diferenciar uma consulta num médico de clínica geral  de uma consulta de psicologia como se a segunda fosse um tabu tremendo porque ai da pessoa que queira recuperar a sua sanidade e parar de fingir que está tudo bem quando não está. Não podemos continuar a achar que alguém é inferior por querer tratar da sua mente. Não podemos permitir que se perpetue uma sociedade que olha para a sensibilidade como fraqueza. 

Muito honestamente, tenho falta de capacidade de escrita para me debruçar sobre algo tão importante quanto isto. Porém, esta não podia ser uma data para passar em branco visto que centenas (e até milhares) de pessoas sofrem em silêncio devido a todos os estigmas que colocam quem não está bem no rótulo de "louc@" ou "desequilibrad@". Não sei se as minhas palavras bastam mas, se estás a ler isto e sentes que não estás no teu melhor a nível mental, quero dizer-te que é normal. Tu não és uma espécie rara que anda sozinha neste mundo. Tens pessoas que gostam de ti e estão dispostas a ouvir-te - eu menciono já que me podes mandar mensagem só porque sim; respondo logo. Não és demente nem tens algo de errado contigo. Acredita.

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Eu sei que este pode não ter sido o post de que estavas à espera, mas há temas que não podem ser ignorados e a saúde mental é um deles. Se te sentires confortável, escreve em anónimo na caixa de comentários o que pensas sobre o assunto que eu estarei deste lado para te responder. Até lá!

Parabéns... para mim?

07.10.20, Lástima

Não sei se consegues acreditar, mas é verdade. Estou a ficar velha. Hoje marca o dia em que me nasceu mais uma ruga na testa e um cabelo branco só mesmo para celebrar a minha entrada nos 21 anos. Yey. 21. Aquela idade em que achava que teria a minha vida orientada mas, afinal, não poderia estar mais confusa e perdida no oceano profundo que é a vida adulta. Mas pronto. Não é de crises existenciais que quero falar. Já sabes que não vou para nova e que, daqui a nada, mais vale começar a preparar a minha inscrição num lar de idosos. Contudo, antes que comece a ficar cheché, achei que seria giro enumerar situações que me fazem comichão no miolo no que toca à celebração de aniversários no geral. 

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1 MINUTO E 36 SEGUNDOS DE PURO SOFRIMENTO

Vou começar já pelo mais óbvio e acho que, com apenas 3 palavras, sabes do que estou a falar: canção de parabéns. Oh sim, vamos lá relembrar o quão constrangedor é ter de ficar a ouvir os nossos amigos e/ou família a cantar aquela música que, vá se lá saber porquê, começa lentamente e acaba à pressa. (Na verdade, eu desconfio que quem a está a cantar também não o quer fazer e, por isso, acelera o ritmo das palmas para que a música termine o quanto antes). 

Claro que este podia ser apenas um pequeno momento menos confortável durante o dia, mas o problema repete-se várias vezes. É de manhã ao acordar, é ao almoço com os pais, é ao lanche com a cara-metade, é ao jantar com os amigos. É tanta vez que mais parece que, em vez de um ano, estou a ganhar sete. Ah, quase me esquecia! E quando temos aquele primo em França com quem mal falamos mas que nos liga no aniversário somente para cantar ao nosso ouvido a bela da cantilena? (Não? Sou só eu?) E, se a cantiga já não é má o suficiente, segue-se logo o momento em que alguém grita "discurso, discurso" como se nascer naquele dia fosse algo de grandioso ou, então, pede para cantar a outra. 

"Obrigado meus amigos do fundo do coração por me terem cantado esta linda canção"

Depois disso, ainda há quem continue a achar piada à tradição louca que era morder a vela e gritar debaixo de uma mesa enquanto se pede um desejo. Não sei quanto a ti, mas ainda não me apareceu o génio da lâmpada que tanto preciso.

PIADAS FOLEIRAS SOBRE A IDADE

E há sempre aquele momento clichê em que se ouve algum comentário que mais parece um ritual obrigatório de passagem para se ser socialmente aceite naquela faixa etária:

"18 aninhos? Cuidado que já podes ir pres@!"

"Olha, olha, 21 anos. Agora sim já é legal na América!"

"Estou a fazer 50 anos, já viste? Atingi meio século."

"25? Já? Então mas onde é que andam os filhos? E o casamento?"

"Ai, amiga, agora que fiz 40 nunca mais saio dos -entas. Só quando fizer 100!"

SURPRESA? SÓ QUERO SE FOR UM KINDER

Não sei quanto a ti, mas eu detesto festas-surpresa. Quer dizer, gosto de as fazer, não gosto de as receber. Sempre tive aquela ideia stressante de que o dia de anos de alguém tem de correr de forma perfeita para que a estrela do dia esteja feliz em todos os momentos. Por isso, não consigo gostar da ideia de uma pessoa fingir que se esqueceu do aniversário de outrem em prol da festa à noite. Claro que a intenção é giríssima e o desvendar da festa ainda mais - mas acho que passar o dia a sentir-me miserável e achar que todos se esqueceram de mim não consegue ser apagado pelo fator-surpresa do evento. Aliás: saber que os meus amigos me estão a preparar uma festa deixar-me-ia mais feliz do que passar um dia inteiro a sentir que não sou amada (nada dramática, portanto).

MENSAGEM EXPRESSO

Esta é mais outra tradição que eu ainda não percebi se faz ou não sentido: tu também tinhas o alarme ligado para a meia-noite porque querias ser a primeira pessoa a mandar o típico testamento de aniversário ao teu amigo? É que eu sim. Eu era essa louca que acordava a meio da noite só mesmo para enviar uma carta previamente feita e guardada no meu bloco de notas com o intuito de fazer o protagonista do dia sentir-se especial. Parte de mim acha isso fofo mas, com a velhice, veio também a valorização do sono e, por isso, deixei-me dessas coisas e passei a enviar mensagem aos aniversariantes quando acordasse ou me lembrasse disso.

FAZER ANOS NAS REDES SOCIAIS

Hora de falar mal do digital como velha do Restelo que sou. Se há prática corrente e que me irrita no que toca ao aniversário de alguém é a redação de um post no Facebook a agradecer todas as mensagens de aniversário. "Porquê?", perguntas tu, a transbordar curiosidade (pelo menos é que prefiro imaginar). Ora, primeiramente acho que esse tipo de publicações não passa de um lembrete passivo-agressivo do aniversariante só mesmo para relembrar indiretamente as pessoas que, por qualquer motivo que seja, não lhe mandaram uma mensagem a desejar os parabéns. Segundo, também dá a sensação de que a pessoa está a ostentar o facto de - alegadamente, atenção - ter recebido imensas mensagens. Tantas que nem foi possível responder a tudo. (Calma, campeão! Tu não és a Helena Coelho.) Por fim, esses posts são altamente impessoais: então os teus amigos/conhecidos/desconhecidos/seguidores/o que quer que seja deram-se ao trabalho de te desejar um feliz dia, tu dás "vista" e depois fazes uma publicação no dia seguinte a agradecer à generalidade? Eu não gostaria que me fizessem isso.

Como o Facebook não é a única rede social que me enerva, também quero falar do Instagram - mais propriamente dos insta stories. Eu sei que contra mim falo, mas acho que são poucos os que percebem que, quando fazemos anos e um amigo partilha fotos e vídeos connosco na sua página, o público-alvo disso somos nós. Chocante, não é? Claro que quando uma querida faz anos quer mostrar ao mundo que tem os melhores amigos e que se sente grata, porém, enquanto estava a pensar sobre este post, apercebi-me que estamos só a escarrapachar na tela dos outros o quão somos um floco de neve especial. O que acaba por ser um tanto ou quanto desnecessário - até porque toda a gente dá skip na nossa página por 48h só mesmo para evitar mais um gabanço.

E como a idade já não perdoa, quase de certeza que me escaparam algumas coisas sobre o grande dia da celebração do nascimento de cada comum mortal. Por esse motivo e não qualquer outro, incito-te a comentar o que pensas na fofinha caixa de comentários ou no belo do Instagram (já estou a falar como se estivesse na meia-idade, não estou?). É aceitar que já não dou para a caixa.

Já agora: há aqui mais alguém que partilhe este dia especial comigo?