Memória raquítica
És capaz de não estar preparad@, mas hoje trago uma revelação bombástica acerca da minha pessoa: eu não sou o ser imaculado que aparento. Eu sei, é um choque. Acredito que pensasses que eu não tivesse defeitos e nunca cometesse erros, mas este anjinho não é perfeito e se há coisa depravada que marca a minha existência é a ausência de memória.
Estranho seria se eu dissesse que me lembro de quando me comecei a esquecer das coisas, por isso nem vou por aí. Na verdade, com o andar da carruagem que é a vida, cada vez mais noto que eu, sem o magnífico do meu bloco de notas, não passaria de um rebuliço andante e é graças a ele que sou o serzinho organizado que me orgulho ser. Não obstante, há aspetos corriqueiros que apenas não fazem sentido estar anotados, e é exatamente aí que eu peco.
TRANQUEI OU NÃO TRANQUEI?
Este episódio é mais repetido do que eu gostaria que fosse. Mas tenho de confessar que já foram inúmeras as vezes em que estou no comboio, sossegadinha e no meu canto, quando, a meio da ponte 25 de abril, sou assombrada pela dúvida de ter ou não trancado o carro. Para aqueles que conduzem um veículo todo modernaço - e refiro-me a todos os carros produzidos depois de 2010 - esta preocupação é quase inexistente. Porém, o meu popó não tranca passado X tempo, de modos que corro sempre o risco de o deixar ao deus-dará.
É um cenário preocupante, eu sei (especialmente se o meu pai estiver a ler isto). Só que o mais curioso no meio disto tudo é que eu deixo o carro sempre trancado e em segurança, apenas não me lembro que o faço e acabo por passar o dia num pranto.
TRINTA BRANCAS POR HORA
Acho que posso afirmar com toda a confiança que todos já tivemos uma branca. Seja num teste, numa apresentação ou numa conversa de café, penso que é um fenómeno que passou por todos. É um pouco incómodo, claro, de forma que só passa despercebido por acontecer tão raramente - isto se tu não fores como eu, cujo dia-a-dia é acompanhado de esquecimentos constantes.
Uma das ocasiões mais frequentes nesta minha vida de pessoa esquecida é em contextos de diálogo. Claro que não é novidade alguém estar a conversar e faltar-lhe aquela palavra que queria mesmo dizer mas dissipou-se. Não tenho muito orgulho nisto, mas é-me bastante frequente estar na ponta de dois espectros completamente distintos: ou repito informação várias vezes porque me esqueço que a disse, ou não digo de todo porque acho que já tinha contado. Eu sei, o meu cérebro mais parece o de uma velhota para cima dos oitentas. Por outro lado, outra coisa que também muito me acontece é quando estou em trabalhos de grupo, especialmente na fase de brainstorming. É que aqui a tua amiga é uma idiota cheia de ideias, sendo parte delas (modéstia à parte) um tanto ou quanto interessantes - só que muitas ficam pelo caminho porque, na hora de as apontar, eu já não sei o que tinha dito.
No fundo, os meus pensamentos acabam quase sempre por ser entregues às moscas. Porque se não é em casos como os que acabei de exemplificar, é quando estou a divagar nas minhas filosofias de Gustavo Santos ou tenho ideias para o blog, sendo que no momento em que as posso apontar evaporam-se-me. Muitas vezes até construo dissertações super complexas sobre temas que eu considero pertinentes e depois nem uma palavra fica retida no meu cérebro.
É uma tristeza, concordo. Mas mais triste que isso é mesmo quando eu tenho fome (ou gula, para ser mais sincera), vou ao frigorífico procurar aquela coisa específica para petiscar e, mal abro a porta, deixei de saber o que era. Quase parece que o espírito das dietas se atravessou por mim para tentar combater a minha vontade de comer gorduras processadas.
Por fim, a última situação que tenho para te contar também é mais recorrente do que devia. Já nem sei se é esquecimento, distração ou défice de atenção, porque também me acontece estar no Twitter, por exemplo, lembrar-me que tenho de ir ver não sei o quê ao e-mail e, mal fecho a aplicação, volto a abri-la porque deixei de saber o que raio é que ia fazer no telefone. Estarei assim tão avariada?
Pois bem, não sei se te lembras de quando eu disse ter pseudo-Alzheimer precoce autodiagnosticado, mas acredito que agora consegues perceber que não era um exagero meu. Aliás, com este texto eu nem sei se posso assumir que está terminado. Por mais revisões que faça, vai-me sempre parecer incompleto, visto que até para o escrever sinto que me esqueci de outras coisas sobre as quais me esqueço. Há mais alguém assim na caixinha de comentários ou posso entender que irei ficar só nesta coisa da memória de elefante invertida?