Não ficou tudo bem. Mas pode ficar
parte 2
Está na hora de acabar com 2020 - pelo menos no que diz respeito aos posts no blog. Como na semana passada fiz questão de destacar o que aconteceu no primeiro semestre deste intenso ano, agora é para rever o que se passou de julho para a frente. Vamos a isso?
JULHO
Metade do ano passou e não poderia começar a abordar o mês de julho sem referir um dos acontecimentos mais tristes que se passou em Portugal. Bruno Candé foi alvejado por um homem de 80 anos que admite com toda a lata que o fez por motivações racistas. Ao que foi apurado, o ator de 39 anos já era vítima de constantes ameaças derivadas do seu tom de pele. Ameaças que passaram impunes durante demasiado tempo e deram origem a este final trágico e completamente injusto.
Ainda numa nota pouco feliz, foi também neste mês que a atriz Naya Rivera, a mítica Santana da série "Glee", foi encontrada sem vida.
Por outro lado, e tendo em conta que a vida na terra só encontra desgraças, a NASA achou que seria pertinente estudar a habitabilidade em Marte, tendo lançado a missão Perseverance no dia 30.
AGOSTO
Estando toda a gente cansada do isolamento social, das regras de etiqueta respiratória e da obrigatoriedade em usar máscara, houve quem tivesse a excelente ideia de começar uma onda de manifestações negacionistas acerca do vírus, afirmando que tudo não passava de uma cilada do governo. (Sim, estou a falar de loucos que acreditam que os deputados comem bebés e acabam por criar ajuntamentos sem quaisquer medidas de segurança.) E qual foi o reflexo disso? Um aumento de casos de infeção, como seria de esperar.
Mas calma: nem todos estão a passar mal com isto da pandemia. Foi em agosto de 2020 que Jeff Bezos, o CEO da Amazon, se tornou a primeira pessoa a ter um património líquido acima dos 200 biliões de dólares. Coisinha pouca, portanto. Na verdade, ele até poderia acabar com a fome no mundo, mas ser rico é bem mais importante.
E para terminar o mês com algo desolador, não nos esqueçamos da morte do ator Chadwick Boseman, vítima de cancro e que, nos seus últimos tempos de vida, foi gozado por milhões pelo seu aspeto físico. Ainda que o público não tivesse conhecimento, na altura, de que o Pantera Negra sofria de um problema oncológico, é importante passar a mensagem de que nunca sabemos o que se passa com o outro, independentemente do grau de exposição que possa ter, e que não é aceitável, em qualquer circunstância, praticar body shaming. No caso, Chadwick foi alvo do meme "Black Panther? More like Crack Panther" por causa da sua magreza repentina e, agora que partiu, só nos resta evitar que este tipo de comportamentos volte a acontecer.
SETEMBRO
Setembro é o mês cujas vítimas mortais da COVID-19 ultrapassam a marca do milhão. Ainda sobre falecimentos, o mundo também perdeu Quino, o ilustrador-pai da Mafalda que, desde os anos '60, era uma figura incontornável no que toca a comentários políticos e sociais.
A par da doença que assombra os nossos dias, também surgiu a febre de Among Us, um videojogo baseado na busca de um impostor numa nave espacial cheia de tripulantes. Eu sei que esta não é lá grande explicação, mas pronto. Foi o que se arranjou.
Saíndo do mundo e voltando a temas dentro da nossa ocidental praia lusitana, a princesa da Malveira, Cristina Ferreira, sai da SIC e regressa à TVI, tendo de pagar uma indemnização milionária à estação que abandonou e, agora voltando para o seu canal de nascença, estreou o "Dia de Cristina", cujo estúdio foi embrulhado em papel de alumínio.
Agora falando de temas sérios, esteve na berra o vídeo de 3 jovens a ter relações sexuais num comboio. Poderia ter sido um acontecimento pouco banal e facilmente esquecido, não fosse o escrutínio que muitos órgãos de comunicação social fizeram apenas e somente à rapariga, sendo o centro de todas as discussões, quase que ilibando os rapazes da sua parte da culpa. Este é um tema bastante delicado e que merece toda uma análise e respetivo holofote, de forma que não o vou aprofundar aqui. Contudo, destaco o movimento #NãoPartilhes, dedicado à erradicação da partilha ilegal de vídeos privados e da culpabilização total das mulheres no que toca ao sexo. É uma iniciativa bastante pertinente e com muita informação, pelo que te aconselho a consultá-la.
OUTUBRO
Chega-se a outubro e, pela primeira vez desde 1996, a Fórmula 1 vem a Portugal. Localizada em Portimão, e com uma venda de bilhetes bastante restrita dada a conjuntura enfrentada, centenas de pessoas se juntaram para ver o evento fora do recinto. O que resultou em ajuntamentos, tudo o que um vírus gosta para contaminar. E menos de uma semana depois, o cenário repetiu-se: mas, desta vez, para ver ondas gigantes na Nazaré.
Ainda no tópico "provavelmente vais ter COVID", o nosso craque madeirense também apanhou. Acho que não há muito a dizer sobre esta contaminação - apenas que o "bicho" apanhou o bicho.
NOVEMBRO
Novembro teve imensa coisa a acontecer. No desporto, mais precisamente no futebol, o mundo perdeu Diego Maradona e Vítor Oliveira. Já com um final mais feliz, o piloto Miguel Oliveira vence o campeonato Moto GP em Portugal.
Ainda no nosso país, enfrentou-se um segundo Estado de Emergência, agora com a aplicação de um recolher obrigatório que nos trocou as voltas. Mas o novo confinamento até pôde ser menos doloroso agora que foi lançada a PlayStation 5. Por fim, no que toca à moda, finalmente chegou à nossa terrinha a coleção de roupa do LIDL, que esgotou rapidamente.
Falando nas Américas, Joe Biden venceu as eleições norte-americanas, tornando a Casa Branca um pouco mais azul e dando lugar a Kamala Harris para tomar posse do cargo da vice-presidência. E sabes o que é fantástico nisto? (Além de destronar Donald Trump, claro.) A dr.ª Harris é agora a primeira mulher vice-presidente na história dos Estados Unidos da América.
DEZEMBRO
Depois da Black Friday mais calma que me lembro de ter passado, dezembro dá as boas-vindas a Elliot Page, protagonista de filmes como "Juno", que abraçou a sua identidade e partilhou no Instagram o seu verdadeiro "eu".
Contudo, nem todas as notícias desde mês foram boas. Cá na nossa terra, destaco a abordagem para lá de imprópria que o grupo Cofina deu ao infeliz acidente que tirou a vida a Sara Carreira. Não fosse o acontecimento por si um total choque - não só pela descrição do sucedido como também pela idade da jovem -, o mais revoltante foi o esmiuçamento que um órgão de comunicação deu a tudo o que se passou. Retirando a privacidade à família e amigos, fez questão de pegar em destroços, tentar retirar informações com caráter nada jornalístico às forças de autoridade e ainda fotografou o velório. Ah, e não nos esqueçamos do momento em que se vangloriaram com as audiências obtidas face a cobertura feroz e sem ética da morte de uma pessoa.
Além disso, foi agora, 9 meses depois, que se desmascarou o que realmente aconteceu a Ihor Homeniuk, um homem brutalmente massacrado e morto pelas mãos de uma das forças de segurança na qual deveríamos confiar.
Agora focando em pontos positivos, finalmente saiu o plano de vacinação da COVID-19, dando-nos uma luzinha ao fundo do túnel que tem sido 2020. Recordo também o episódio em que José Brito salvou um homem que se estava a afogar, em Lisboa, atirando-se à água sem quaisquer medos.
Com um Natal mais contido, dezembro também protagonizou mais uma das ideias geniais de Cristina Ferreira, que organizou um baby-shower ao menino Jesus e resultou numa vaca a ter um ataque e a quase ceifar a vida a uma pequena pastora que estava a dar festas a ovelhas. Parece mentira, eu sei. Mas este momento televisivo aconteceu.
E foi assim que se sobreviveu ao novo louco ano 20. Foram precisos dois textos para abordar brevemente um ano que foi para lá de caótico, mas fico feliz que finalmente tenha acabado. Tenho consciência de que é muito provável que me estejam a escapar alguns acontecimentos sobre estes meses cruéis, por isso conto contigo para me elucidares e contares algo que te tenha marcado a entrada na nova década. Passámos por muito e enfrentámos tempos muito difíceis, por isso desejo do fundo do coração que tu, que estás a ler isto, tenhas muita sorte no novo ano que aí vem. Espero que a bonança venha o mais rápido possível e que 2021 traga tudo o que 2020 não trouxe - no bom sentido, claro.
Agora que cheguei ao fim, só me resta dizer que para o ano há mais (e melhor, espero). Merecemos.