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Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Não ficou tudo bem. Mas pode ficar

parte 2

30.12.20, Lástima

Está na hora de acabar com 2020 - pelo menos no que diz respeito aos posts no blog. Como na semana passada fiz questão de destacar o que aconteceu no primeiro semestre deste intenso ano, agora é para rever o que se passou de julho para a frente. Vamos a isso?

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JULHO

Metade do ano passou e não poderia começar a abordar o mês de julho sem referir um dos acontecimentos mais tristes que se passou em Portugal. Bruno Candé foi alvejado por um homem de 80 anos que admite com toda a lata que o fez por motivações racistas. Ao que foi apurado, o ator de 39 anos já era vítima de constantes ameaças derivadas do seu tom de pele. Ameaças que passaram impunes durante demasiado tempo e deram origem a este final trágico e completamente injusto.

Ainda numa nota pouco feliz, foi também neste mês que a atriz Naya Rivera, a mítica Santana da série "Glee", foi encontrada sem vida. 

Por outro lado, e tendo em conta que a vida na terra só encontra desgraças, a NASA achou que seria pertinente estudar a habitabilidade em Marte, tendo lançado a missão Perseverance no dia 30.

AGOSTO

Estando toda a gente cansada do isolamento social, das regras de etiqueta respiratória e da obrigatoriedade em usar máscara, houve quem tivesse a excelente ideia de começar uma onda de manifestações negacionistas acerca do vírus, afirmando que tudo não passava de uma cilada do governo. (Sim, estou a falar de loucos que acreditam que os deputados comem bebés e acabam por criar ajuntamentos sem quaisquer medidas de segurança.) E qual foi o reflexo disso? Um aumento de casos de infeção, como seria de esperar.

Mas calma: nem todos estão a passar mal com isto da pandemia. Foi em agosto de 2020 que Jeff Bezos, o CEO da Amazon, se tornou a primeira pessoa a ter um património líquido acima dos 200 biliões de dólares. Coisinha pouca, portanto. Na verdade, ele até poderia acabar com a fome no mundo, mas ser rico é bem mais importante.

E para terminar o mês com algo desolador, não nos esqueçamos da morte do ator Chadwick Boseman, vítima de cancro e que, nos seus últimos tempos de vida, foi gozado por milhões pelo seu aspeto físico. Ainda que o público não tivesse conhecimento, na altura, de que o Pantera Negra sofria de um problema oncológico, é importante passar a mensagem de que nunca sabemos o que se passa com o outro, independentemente do grau de exposição que possa ter, e que não é aceitável, em qualquer circunstância, praticar body shaming. No caso, Chadwick foi alvo do meme "Black Panther? More like Crack Panther" por causa da sua magreza repentina e, agora que partiu, só nos resta evitar que este tipo de comportamentos volte a acontecer.

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SETEMBRO

Setembro é o mês cujas vítimas mortais da COVID-19 ultrapassam a marca do milhão. Ainda sobre falecimentos, o mundo também perdeu Quino, o ilustrador-pai da Mafalda que, desde os anos '60, era uma figura incontornável no que toca a comentários políticos e sociais.

A par da doença que assombra os nossos dias, também surgiu a febre de Among Us, um videojogo baseado na busca de um impostor numa nave espacial cheia de tripulantes. Eu sei que esta não é lá grande explicação, mas pronto. Foi o que se arranjou.

Saíndo do mundo e voltando a temas dentro da nossa ocidental praia lusitana, a princesa da Malveira, Cristina Ferreira, sai da SIC e regressa à TVI, tendo de pagar uma indemnização milionária à estação que abandonou e, agora voltando para o seu canal de nascença, estreou o "Dia de Cristina", cujo estúdio foi embrulhado em papel de alumínio.

Agora falando de temas sérios, esteve na berra o vídeo de 3 jovens a ter relações sexuais num comboio. Poderia ter sido um acontecimento pouco banal e facilmente esquecido, não fosse o escrutínio que muitos órgãos de comunicação social fizeram apenas e somente à rapariga, sendo o centro de todas as discussões, quase que ilibando os rapazes da sua parte da culpa. Este é um tema bastante delicado e que merece toda uma análise e respetivo holofote, de forma que não o vou aprofundar aqui. Contudo, destaco o movimento #NãoPartilhes, dedicado à erradicação da partilha ilegal de vídeos privados e da culpabilização total das mulheres no que toca ao sexo. É uma iniciativa bastante pertinente e com muita informação, pelo que te aconselho a consultá-la.

OUTUBRO

Chega-se a outubro e, pela primeira vez desde 1996, a Fórmula 1 vem a Portugal. Localizada em Portimão, e com uma venda de bilhetes bastante restrita dada a conjuntura enfrentada, centenas de pessoas se juntaram para ver o evento fora do recinto. O que resultou em ajuntamentos, tudo o que um vírus gosta para contaminar. E menos de uma semana depois, o cenário repetiu-se: mas, desta vez, para ver ondas gigantes na Nazaré.

Ainda no tópico "provavelmente vais ter COVID", o nosso craque madeirense também apanhou. Acho que não há muito a dizer sobre esta contaminação - apenas que o "bicho" apanhou o bicho.

NOVEMBRO

Novembro teve imensa coisa a acontecer. No desporto, mais precisamente no futebol, o mundo perdeu Diego Maradona e Vítor Oliveira. Já com um final mais feliz, o piloto Miguel Oliveira vence o campeonato Moto GP em Portugal.

Ainda no nosso país, enfrentou-se um segundo Estado de Emergência, agora com a aplicação de um recolher obrigatório que nos trocou as voltas. Mas o novo confinamento até pôde ser menos doloroso agora que foi lançada a PlayStation 5. Por fim, no que toca à moda, finalmente chegou à nossa terrinha a coleção de roupa do LIDL, que esgotou rapidamente.

Falando nas Américas, Joe Biden venceu as eleições norte-americanas, tornando a Casa Branca um pouco mais azul e dando lugar a Kamala Harris para tomar posse do cargo da vice-presidência. E sabes o que é fantástico nisto? (Além de destronar Donald Trump, claro.) A dr.ª Harris é agora a primeira mulher vice-presidente na história dos Estados Unidos da América.

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DEZEMBRO

Depois da Black Friday mais calma que me lembro de ter passado, dezembro dá as boas-vindas a Elliot Page, protagonista de filmes como "Juno", que abraçou a sua identidade e partilhou no Instagram o seu verdadeiro "eu".

Contudo, nem todas as notícias desde mês foram boas. Cá na nossa terra, destaco a abordagem para lá de imprópria que o grupo Cofina deu ao infeliz acidente que tirou a vida a Sara Carreira. Não fosse o acontecimento por si um total choque - não só pela descrição do sucedido como também pela idade da jovem -, o mais revoltante foi o esmiuçamento que um órgão de comunicação deu a tudo o que se passou. Retirando a privacidade à família e amigos, fez questão de pegar em destroços, tentar retirar informações com caráter nada jornalístico às forças de autoridade e ainda fotografou o velório. Ah, e não nos esqueçamos do momento em que se vangloriaram com as audiências obtidas face a cobertura feroz e sem ética da morte de uma pessoa.

Além disso, foi agora, 9 meses depois, que se desmascarou o que realmente aconteceu a Ihor Homeniuk, um homem brutalmente massacrado e morto pelas mãos de uma das forças de segurança na qual deveríamos confiar. 

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Agora focando em pontos positivos, finalmente saiu o plano de vacinação da COVID-19, dando-nos uma luzinha ao fundo do túnel que tem sido 2020. Recordo também o episódio em que José Brito salvou um homem que se estava a afogar, em Lisboa, atirando-se à água sem quaisquer medos.

Com um Natal mais contido, dezembro também protagonizou mais uma das ideias geniais de Cristina Ferreira, que organizou um baby-shower ao menino Jesus e resultou numa vaca a ter um ataque e a quase ceifar a vida a uma pequena pastora que estava a dar festas a ovelhas. Parece mentira, eu sei. Mas este momento televisivo aconteceu. 

E foi assim que se sobreviveu ao novo louco ano 20. Foram precisos dois textos para abordar brevemente um ano que foi para lá de caótico, mas fico feliz que finalmente tenha acabado. Tenho consciência de que é muito provável que me estejam a escapar alguns acontecimentos sobre estes meses cruéis, por isso conto contigo para me elucidares e contares algo que te tenha marcado a entrada na nova década. Passámos por muito e enfrentámos tempos muito difíceis, por isso desejo do fundo do coração que tu, que estás a ler isto, tenhas muita sorte no novo ano que aí vem. Espero que a bonança venha o mais rápido possível e que 2021 traga tudo o que 2020 não trouxe - no bom sentido, claro.

Agora que cheguei ao fim, só me resta dizer que para o ano há mais (e melhor, espero). Merecemos.

Não ficou tudo bem. Mas pode ficar

parte 1

23.12.20, Lástima

Penso que 2020 foi o ano mais longo e complexo pelo qual passámos. Começou cheio de promessas e sonhos e logo no início caiu em desgraça. Parece que o meme "rindo até 2020" era, na verdade, um presságio para o que teríamos de enfrentar.

A minha ideia para encerrar o capítulo relativo aos últimos 365 dias seria inspirada nuns relatórios bastante divertidos e muito bem feitos (que eu aconselho vivamente para quem não conhece). Só que eu não tenho o talento do Batáguas, por isso vou-me ficar pelo lado mais pedagógico da coisa e vou deixar o humor para o humorista.

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JANEIRO

Lembro-me das 23h59 do dia 31 de dezembro de 2019 como se fosse ontem, um momento pelo qual ansiava e depositava todas as minhas esperanças para que o ano me sorrisse mais que o anterior. Pois nem dois dias se tinham passado desde o começo de 2020 quando houve um bombardeamento americano que provocou a morte de Qassem Soleimani, um dos homens mais poderosos do Irão. E claro, só poderia ter gerado mais bombardeamentos entre as tropas norte-americanas e islâmicas, criando um ambiente de alta tensão entre duas potências mundiais.

Do outro lado do mundo, enquanto isto acontecia, mantinham-se os fogos aterradores na Austrália, que enfrentou o seu pior pico de incêndios de sempre e perdeu milhares de milhões de animais e hectares de floresta. Já nas terras europeias, seguindo a lógica do Brexit, o príncipe Harry e a esposa, Megan Markle, anteciparam-se e decidem afastar-se das funções da família real, originando o chamado Megxit.

Por fim, após a identificação do novo coronavírus na China, que ocorreu em dezembro, a Organização Mundial da Saúde classifica o surto como uma emergência global ao nível da saúde pública. E como se tudo o que se estava a passar não bastasse, o mundo ainda perde Kobe e Gianna Bryant num terrível acidente de helicóptero.

FEVEREIRO

Mudamos o mês, mas o drama mantém-se no continente americano. Se na América do Norte o presidente Donald Trump é absolvido dos seus crimes de abuso de poder e obstrução ao Congresso (eu também não sei como...), na América do Sul - mais precisamente no Brasil - surge o primeiro caso do novo coronavírus, na cidade de São Paulo.

Estes cenários estão cada vez menos bonitos de se ver, porém há que congratular a astronauta Christina Koch: então não é que ela completou 328 dias no espaço, a bordo da nave Soyuz MS-13, e quebrou o recorde da missão espacial mais longa feita por uma mulher? #GirlPower

MARÇO

E como três foi a conta que Deus fez, é no mês de março que surge o primeiro infetado de COVID-19 em solo lusitano, despoletando o primeiro Estado de Emergência que o país iria ativar.

Dados os avanços que a doença estava a ter no mundo, é também neste mês que a Organização Mundial da Saúde declara o vírus uma pandemia mundial, resultando no adiamento ou cancelamento de eventos que incluíssem ajuntamentos (que é como quem diz todos os eventos), nomeadamente o Campeonato Europeu de Futebol e a Copa América. Infelizmente, o Festival Eurovisão da Canção 2020 foi cancelado pela primeira vez desde 1956.

Vendo a curva de infeção a aumentar compulsivamente no nosso país, a comunicação social portuguesa sente a necessidade de cumprir com o seu dever de responsabilidade social. Talvez por isso, Portugal é abalroado por um pivot intervencionista que usa a sua voz para alertar para os perigos que a pandemia pode trazer. É neste sentido que surge o grande Rodrigo Guedes de Carvalho que, acima de tudo, pede que o povo tenha noção.

Mas nem tudo no mês de março foi mau: Bruno Nogueira decide salvar as noites dos internautas e começa com a sua série de lives "Como É Que O Bicho Mexe". Não fosse isso mais que suficiente, o país e o mundo começam a sofrer da febre HouseParty - pelo menos até ver que, afinal, a aplicação era suspeita de roubar dados e toda a gente a desinstalar.

ABRIL

É em abril que Portugal atinge o pico da primeira vaga do surto de SARS-CoV-2, sendo cada vez mais incentivado o confinamento e o teletrabalho. Por isso mesmo, começam a surgir dois tipos de pessoas na quarentena: os que fazem exercício físico feitos loucos e os que decidem emborcar tudo o que é comida e fazer pão caseiro. Tendo em conta que o aconselhável é ficar em casa, as janelas começam a ser decoradas com desenhos de arco-íris a dizer "Vai ficar tudo bem", os vizinhos cantam nas varandas e, de noite, segue-se a onda de aplausos a homenagear e agradecer aos profissionais de saúde pelo esforço que estão a fazer por todos nós.

E como as estações de televisão não perdem uma, estreia-se o Big Brother 2020, apresentado por Cláudio Ramos e que ofereceu momentos como "Noélia. Noélia. Noééééélia!".

No outro lado do mundo começam a surgir rumores de que o ditador Kim Jong Un tinha falecido, coisa que se veio a provar falsa.

MAIO

Maio chegou e veio acompanhado de uma dose exorbitante de constrangimento. Sou capaz de te desbloquear uma memória perdida, mas lembras-te do vídeo repleto de personalidades americanas a cantar "Imagine" do John Lenon como forma de tentar dar esperança à ralé? Pois.... Foi bem estranho. Parte de mim consegue compreender a intenção do vídeo, mas todas essas pessoas estão a confinar em mansões trilionárias. Acaba por ser difícil alguém acreditar que tudo ficará bem quando se está a passar uma quarentena num quarto minúsculo.

E como reflexo do aborrecimento máximo que as pessoas estão a passar durante a pandemia, toda a santíssima alma pensa que é boa ideia lançar o seu podcast. Com o andar da carruagem, é capaz de, neste momento, existirem mais podcasts ativos que ouvintes disponíveis.

Agora numa nota mais séria, maio também foi marcado pela morte violenta de George Floyd, vítima da brutalidade policial americana. Por isso mesmo, começaram as manifestações Black Lives Matter dos Estados Unidos para o mundo, com o propósito de alertar para o preconceito demasiado presente na atualidade e para a extrema violência com que as autoridades tratam cidadãos de etnia não-caucasiana. 

JUNHO

Com o "adeus" oficial dos festivais de verão para 2020, abre-se espaço para o debate acerca do racismo em Portugal. Sendo um tema tão sério, pertinente e finalmente a ter o holofote que merece, muitos se começaram a questionar também sobre o impacto que as influenciadoras digitais tinham acerca deste tipo de temáticas. E é aqui que entra a Sandra Silva Oficial.

Sendo uma influencer conhecida pelo spam que faz nos insta stories e que diz ser apologista de espalhar mensagens importantes e de tolerância para o outro, muitos dos seus seguidores pediram que desse o seu parecer acerca de tudo o que estava a passar nas últimas semanas. Mal eles sabiam que não o deviam ter feito, pois a coisa deu polémica a partir do momento em que a instagrammer se recusou fazê-lo porque não quer falar de um assunto que está nas tendências só para se sentir cool e incluída na sociedade. Aliás, fãs e não fãs até foram brindados com frases como "Eu não sou racista, okay? Não é fixe as pessoas andarem a morrer".

Caso tenhas curiosidade ou te queiras relembrar do que se passou, podes carregar aqui e tens um excerto do sucedido.

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Infelizmente também, Portugal perdeu Pedro Lima, um ator amado por muitos e que, infelizmente, perdeu a batalha contra a depressão.

O ano ainda vai a meio e já tanta coisa aconteceu. É estranho pensar que este texto apenas relata 6 meses que mais pareceram 60 anos. E por sermos uns sobreviventes nesta loucura que é 2020, para a semana trago-te o resumo do resto - é que passámos por demasiada coisa, credo! Caso estejas a gostar do que lês, comenta na caixa de comentários o que pensas sobre esta metade de 2020 e espera por mim para te contar a minha visão do que foram os 6 meses seguintes. Caso não tenhas gostado, por favor diz-me de que forma posso melhorar (que aqui a querida quer evoluir nesta coisa da escrita). Fico à tua espera!

Amigos, amigos, séries à parte

16.12.20, Lástima

Agora com um belo confinamento e o frio característico de dezembro, haverá algo melhor que ficar em casa a ver séries? Pergunta retórica, claro. Eu não sou grande admiradora desta atividade (apesar de o fazer ocasionalmente) e, por essa razão, fiquei inspirada para falar mal de uma série em particular que é amada por todos. Ora cá vai o meu veredicto: F.R.I.E.N.D.S não é assim tão bom.

Sim, sim, eu sei que és capaz de discordar e ficar com uma alta indignação sobre esta minha declaração insolente. Mas não disse nada mais que a verdade. Eu vi todas as temporadas e confesso que fiquei entretida, mas está na hora de tirar esta série do pedestal em que está - especialmente porque promove alguns comportamentos menos positivos e é sobre eles que venho falar. (Sim, eu já sei. Ser maldizente está no meu ADN.)

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OS RISOS DAS SITCOMS

Primeiramente, quero abordar o caos que é existirem sitcoms com os risos de fundo. Detesto. Tira toda a piada à coisa. Não só perdemos mais tempo a ouvir risos falsos do que as piadas em si, como também deixamos de conseguir distinguir o que é suposto ser engraçado. Esses ruídos de fundo aparecem de 7 em 7 segundos e quase dão a entender que todo e qualquer momento de uma série tem piada quando, na realidade, não é bem assim. 

Uma coisa é um programa ser gravado ao vivo e, por isso, haver um descontrolo no que toca aos risos porque não podemos prever com toda a precisão quando é que alguém vai achar piada a algo. Outra coisa é colocar propositadamente um áudio a rir como se todas as ações narradas fossem divertidas. Não o são, lamento. Muitas vezes, apenas são indiferentes. 

Por isso, lanço-te uma pergunta para queijinho: num episódio de F.R.I.E.N.D.S, quantas vezes (aproximadamente) é que te ris em comparação à quantidade de faixas de risos que ouves? Oh sim, agora quero que reflitas sobre a coisa.

Mas este meu rançozinho sobre as faixas a rir aplicam-se a tudo, atenção. Esta foi apenas uma queixa introdutória antes de passar à análise do perfil das personagens. 

ROSS

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Vou já começar com o pior deles todos: o Ross. Irrita-me profundamente. Compreendo que a personagem tenha sido desenhada como o protótipo do rapaz eternamente apaixonado pela sua crush do secundário, mas ele tem com cada atitude que mostra tudo menos amor.

Ignorando o facto de ele ser o filho favorito e isso ser um motor imediato para alguém ser um ódio de estimação meu, começo por abordar os ciúmes que ele tinha enquanto namorava com a Rachel (numa das 573 tentativas de relacionamento que tiveram). Ora, ter um ciuminho básico é normal quando se está numa relação amorosa, mas chegar ao ponto de tentar impedir a pessoa de trabalhar no seu emprego de sonho só porque ela investe mais tempo nisso do que na relação parece-me completamente absurdo - para não falar da ciumeira descomunal que ele tinha do Mark, um colega que a Rachel fazia questão de relembrar que não tinha interesse e que a sua relação era meramente profissional.

E é neste sentido que chega o grande momento do "We were on a break". Sim, estavam numa alegada pausa na relação, mas eu desconfio que isso não é desculpa para na mesma noite a nossa tão querida personagem ter ido logo para debaixo dos lençóis com uma outra rapariga qualquer. Sorry, not sorry, mas eu sou "equipa Rachel" nisto.

Além do mais, reforço que quando se casaram bêbedos em Vegas e ela lhe pediu para tratar do divórcio, o Ross não o fez e o seu motivo foi não querer ficar rotulado como o homem que se divorciou três vezes. Quão altruísta, este rapaz!

Mas não é só com a Rachel que ele foi incorreto. Até com o próprio filho é ao impedi-lo de brincar com bonecas por considerar que não é coisa de menino. What!? Ah, e quando queria que o babysitter da Emma fosse despedido apenas e somente por ser um rapaz a ter uma "profissão feminina"? Acho que não é preciso dizer muito a este respeito... Ou seja, através deste breve resumo posso afirmar com toda a convicção que, apesar de alguns momentos bons, o Ross é egoísta, machista, preconceituoso e infantil.

RACHEL

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Pronto. Já defendi a Rachel mas não é por isso que devemos pensar que ela é santa. A relação com o Ross é altamente tóxica e um dos episódios que mais me marcou sobre a protagonista foi quando convenceu outra rapariga a rapar o cabelo para sabotar um encontro que teria com ele. Amiga, ele não vale nada... Sabotaste uma mana para quê?

Ainda por cima, apesar de o seu trajeto na série incidir sobre a ascensão de uma jovem que quer vingar na vida e não depender de um homem para concretizar os seus sonhos, custa-me particularmente ver as ocasiões em que ela contratou o seu assistente só porque era atraente ou quando tentou seduzir um polícia para se ver livre de uma multa. Deu cabo de toda intenção feminista da coisa, lamento.

JOEY

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Ai o meu querido Joey... Tão engraçado, generoso, companheiro. E objetificador de mulheres. Sim, ele é um regalo para os olhos e uma das personagens mais cativantes da série. Só que isso não apaga o facto de ser um derradeiro womanizer. E isso, pelo menos para mim, não tem piada. 

Acho que a personagem do macho encantador de fémeas se tornou tão repetida e sem graça. Para não falar que apenas perpetua a ideia de que os homens se podem divertir com várias mulheres e serão vistos como reis, enquanto o cenário inverso resulta no escrutínio social. E antes que alguém comente que quando ele se apaixonava era respeitador, eu remato com o seguinte: por que é que ele também não o poderia ser com amigas coloridas?

MONICA

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Quem acompanhou a série sabe que a Monica é, digamos, especial. Germofóbica e com uma obsessão por limpezas aliada à sua história sobre ser ex-obesa, seria de esperar que esta personagem fosse compreensiva no que toca a idiossincrasias e momentos de recuperação. Pois... É tudo muito bonito até chegar o momento em que sabota a jornada de sobriedade do "Funny Bob" apenas porque se aborrece com ele no seu estado não alcoólico. Um motivo mais que válido para arruinar o percurso de quem luta contra o alcoolismo, portanto.

Mas este não foi o único episódio em que a irmã Geller deixou o seu egoísmo sobressair. Ainda tenho uma memória bastante viva sobre o episódio em que a personagem impedia a Phoebe de brincar com a sua casa de bonecas. E porquê? Porque as brincadeiras da Phoebe iam contra o que ela achava que era brincar corretamente. Eu sei que a Monica é a "mãe" do grupo, mas isso dá-lhe permissão para demarcar como alguém se deve divertir?

A propósito, é demasiado tarde para relembrar que estas pessoas estão na casa dos 20?

CHANDLER

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Esta carinha laroca acima é a minha personagem favorita. Talvez por me identificar com o seu sentido de humor, constante sarcasmo e interesse pela área da publicidade, ganhei um carinho especial ao Chandler. Mas ele que não pense que se safa, porque também tem a sua parte menos boa e é isso mesmo que eu vou esmiuçar. 

Se eu no tópico Joey o repreendi por ser mulherengo, ao Chandler vou crucificá-lo por maltratar constantemente a Janice. Está bem, ela é chata, carente e pode ter mil e um tiques enervantes. Mas nada justifica um constante desprezo a uma pessoa que tanto o amou e, no fim de contas, só lhe deseja o melhor.

PHOEBE

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É sabido que a Phobe é um espírito livre que vive sob as suas regras e gosta de quebrar tudo o que é conhecido como normal. Mas será que isso justifica o seu furto? Qual é a linha que separa a individualidade do crime? Ah pois, não nos esqueçamos do momento em que roubou um dos seus melhores amigos, o Ross. Eu sei que ela teve uma vida difícil e teve de lutar muito para chegar onde chegou. Por outro lado, quão diferente teria sido a situação se ela apenas tivesse pedido ajuda e não se virasse para a concretização de delitos?

E quando ela e o esposo decidiram doar todo o seu dinheiro do casamento para a caridade e depois acabaram por o querer de volta? Inúmeras vezes até. Não é um momento particularmente feliz, admitemos. As boas intenções estão lá, mas, no final, nada de solidário acabou por acontecer.

Por último, quero afirmar que tenho consciência de que esta série foi estreada na década de '90 e que os tempos mudaram. Mas a exibição mantém-se e os seus valores também. Por isso, não compreendo totalmente o argumento que obriga a situar o programa à época, até porque, desde então, pouca coisa mudou. Apesar de este texto ter como base os defeitos do elenco de F.R.I.E.N.D.S, não significa que eu tenha deixado de gostar da série num modo geral. Só acho que não é tão espetacular quanto fazem crer. Mas esta é só uma opinião em milhões, por isso, se discordares de mim, és mais que bem-vind@ a escrever o que pensas aqui em baixo ou no nosso Instagram. Fico à tua espera!

Diário de bordo de uma recém-chegada

episódio 2

09.12.20, Lástima

Visto que, com a estreia desta série (que, para quem não leu, começou aqui), eu me senti uma verdadeira super-estrela da blogosfera, está na hora do tão aguardado segundo episódio. Contudo, quero já "despressionar-me" da coisa e dizer que não garanto que este diário de bordo seja tão bem recebido quanto o anterior. Primeiro, porque eu agora sinto que tenho de corresponder às expectativas e isso enerva-me. Segundo, porque, desta vez, ao invés de histórias peculiares, trago injustos relatos que tenho vindo a apontar nesta minha experiência. Se vai ser um texto mais anticlimático e irritadiço que o esperado? É bem provável. Mas eu nunca disse que era sensata.

Esta semana venho em modo "Livro de Reclamações", por isso é melhor passar já à parte que interessa. Isto pode demorar.

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EXCLUSÃO ANALFABETA

Lidar com a rejeição não é fácil. Isso já todos sabemos. Mas ser rejeitada por uma entidade que escreve "á" em vez de "à" custa ainda mais. Quer dizer, ando eu a candidatar-me a cargos cujos requisitos obrigatórios envolvem uma excelente expressão escrita e domínio da língua portuguesa para depois receber um e-mail a dizer que não tenho competências suficientes para passar "á" próxima fase? Eu sei que não sou a última coca-cola do deserto, mas dói-me na alma enfrentar este tipo de coisas.

FUSO HORÁRIO ÍMPAR

Eu não sei se o meu calendário é diferente do das entidades empregadoras, mas serei a única que já reparou que, quando informam que irão contactar no dia X nunca o fazem? Anda aqui uma pessoa feita louca a dar refresh na caixa de e-mail, a ver se tem Internet ou se a MEO não está a falhar porque pode ser que liguem entretanto a dar uma resposta como combinado para depois passar o dia com os nervos em franja e na mesma incógnita de sempre - mas agora com mais queda de cabelo, que isto de andar ansioso faz mal. No fundo, não passa de um maroto ghosting, para a manuntenção de um eterno espírito de Halloween.

EM BUSCA DE FEEDBACK

Infelizmente, o melhor cenário que encontro quando não fico com a vaga para a qual me candidatei é a receção de um e-mail automático a dar a nega. E isso entristece-me. Não tanto pela rejeição (que continua a não ser agradável), mas mais pela falta de linhas-guia que me permitam crescer e melhorar determinados aspetos para candidaturas futuras. 

Já sabemos que a vida é feita de "sins" e "nãos", mas se não nos forem dadas ferramentas para conseguir detetar o que estamos a fazer menos bem será improvável conseguir sair da bolha em que nos encontramos. É que não custa assim tanto... 

O VÍCIO DO CÍRCULO

Está na hora de falar do óbvio. Acredito que todos saibam isto, mas cá vai: para ter experiência na área é preciso que se dê uma oportunidade às pessoas. Chocante, não é mesmo? Parece uma coisa tão lógica, mas depois vai-se a ver e a principal desculpa de rejeição das empresas é o facto de não termos experiência profissional no cargo e que, por isso, vão contratar alguém que já a tenha. Pois bem, se para ganhar estaleca é preciso que alguém o permita, então uma pessoa nunca conseguirá sair deste ciclo vicioso. Se é um risco contratar alguém que ainda não teve a possibilidade de exercer no cargo a que se candidata? É. Mas a vida é feita de riscos e, se nunca se sair desse padrão, nunca se chega à inovação. (Toma lá uma rima só para alegrar a coisa.)

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Eu sei que já escrevi isto no post passado, mas repito: nunca pensei que a entrada no mercado de trabalho fosse tão feroz. Uma pessoa estuda e sonha com o dia em que poderá exercer naquilo em que acredita que é mesmo boa e, quando chega a hora, sente que ninguém lhe reconhece o potencial. Encontrar trabalho é uma jornada longa, frustrante e desgastante que leva qualquer um a pensar que não tem valor e que, se até à data, não arranjou nada, é mesmo porque deve desistir. Tenho noção que, ao escrever este tipo de coisas, pareço uma criança a fazer birra, mas a realidade é que estes casos são recorrentes para muitos e sinto a necessidade de encontrar uma explicação.

Especialmente por não ter conhecimentos ao nível da gestão de recursos humanos (ou talent acquisition, para aqueles que gostam mais de usar este nome todo pomposo), tenho imensas dúvidas sobre como decorre um processo de recrutamento, quais os critérios mais valorizados e porque é que continuam a haver este tipo de falhas vistas como faltas de consideração por quem está do outro lado do telefone/computador. Creio que não seja nada fácil ter de decidir quem pode viver o seu sonho e quem irá ficar destroçado e, por isso mesmo, gostava de saber a tua opinião sobre o assunto. Sejas ou não conhecedor@ na área, espero por ti na caixa de comentários. Até lá!

Ho, Ho, Hora de falar do Natal

02.12.20, Lástima

Está oficialmente aberta a época natalícia! Chegou a altura das festas, das decorações, das luzes, das músicas e de todo o ambiente mais feliz que se vive quando se aproxima a entrada do Pai Natal nas nossas chaminés. Mas lástima que se preze tem de realçar a sua veia Grinch: o Natal é muito giro, é verdade, mas há coisas tão datadas que não interessam nem ao menino Jesus.

Ignorando a atual conjuntura mundial (senão uma pessoa só fica com vontade de ir para um canto do quarto chorar em posição fetal), relembremos alguns dos episódios menos agradáveis desta quadra.

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MAIS UM ANO COM O MENINO KEVIN

O primeiro clichê que me vem à memória já faz parte das tardes da SIC durante todo o mês de dezembro: o franchise "Sozinho em Casa". É que é sempre a mesma coisa todos os santíssimos anos! Sim, o filme é girito e serve para passar o tempo, mas já cansa ter de ver a mesma narrativa consecutivamente. Não sei se já fizeste as contas, mas o primeiro filme faz três décadas em 2020. E sabes o que é que isso significa? Significa que é mais provável teres visto a cara de um pequeno Macaulay Culkin no teu ecrã do que o rosto da tua tia-avó Germínia que mora no Algarve.

Aliás (e para ser um pouquinho venenosa): serei a única que não gosta deste filme? Pode parecer insensível da minha parte e tirar toda a magia natalícia da película, mas a história apenas relata a negligência daqueles pais e, por isso, não consigo compreender o que de mágico possa ter. Claro que tem a sua piada ver a criança a fazer patifarias aos vilões, só que esse cenário poderia ter sido facilmente evitado se os senhores McCallister tivessem alguma consideração pelo miúdo. Eu posso ser esquecida, mas duvido que fosse capaz de viajar e não dar conta da ausência de um filho meu.

PRAGAS MUSICAIS

Penso que o título consegue ser auto-explicativo e que o que tenho a acrescentar é consensual: as músicas natalícias são irritantes que se farta. Mas completamente irresistíveis.

É que não dá mesmo para não vibrar quando surge um "All I Want For Christmas Is You". Até a voz mais cana rachada não resiste aos encantos da Mariah Carey e lá se mete a cantar com ela. Por isso mesmo, trago-te uma mini playlist de músicas natalícias para estares no carro a cantarolar e inalar energias positivas.

FAMÍLIA NÃO TÃO QUERIDA

A família é um tópico delicado, contudo há que admitir que nesta quadra existem alguns cenários que ajudam na ruína do bom ambiente. Penso que o mais óbvio é a obrigatoriedade de haver uma refeição entre os dias 24 e 26 de dezembro com familiares que nunca vemos. Ora, estar com primos, tios e tudo mais com quem raramente estamos consegue ser giro, exceto quando somos alvo de um interrogatório policial acerca da nossa vida amorosa (que custa particularmente quando estamos solteir@s há 700 anos) ou temos de conversar com aquela tia especialista em assassinar a nossa autoestima.

Além disso, mesmo que não existam crianças no seio familiar, há sempre aquele primo afastado que acha um piadão mascarar-se de Pai Natal em nome dos "bons velhos tempos" em que éramos fetos que reparavam que aquela máscara era tudo menos credível.

Por fim, estar com a família exige toda uma chiqueza desnecessária. Para mim, um bom Natal inclui passar o dia de pijama e enrolada em mantas, de forma que não me faz sentido ter de aperaltar para ir do quarto para sala nem da sala para a cozinha. Porém, já vi que este ano o meu problema estará resolvido - agora que a Vanessa Martins lançou a sua linha de pijamas de 70 euros, deixarei de ser uma lástima desleixada que veste unicórnios para ir comer bacalhau e passarei a ter um look de noite digno de passerelle. Nunca um sono de beleza foi levado tão a sério.

O BOLO QUE NÃO DEVERIA SER REI

Para terminar, quero que me admitas uma coisa. Tu gostas de bolo-rei? Comes aquilo inteiro e com gosto ou és daqueles que tem de tirar as passas e/ou a fruta cristalizada porque, caso contrário, aquilo fica intragável? Podes confessar, eu não te julgo. É que eu não conheço ninguém que goste mesmo daquilo e, ainda assim, faz parte do menu natalício de todos nós.

Juro que não compreendo. É que aquilo não sabe bem. Quer dizer, não sabe a nada. Existir ou não existir é completamente redundante, especialmente agora que deixou de ser um atentado à saúde dentária porque alguém com dois dedos de testa percebeu que esconder ferros em bolos não era a melhor das ideias.

E é isto que eu tenho para te contar esta semana. Concordas que alguns destes episódios (ou todos, se quiseres ser generos@) têm de ser dizimados ou achas que não são assim tão maus e que até tornam a tradição um pouco mais especial? Espero por ti na caixa dos comentários para saber a tua opinião! Boas Festas!