Só, mas bem acompanhada
Não queria vir para aqui com teorias de Gustavo Santos, mas acho que estou prestes a cair na esparrela. E como mais vale assumir a minha filosofia de esquina do que fingir que não a tenho, sigamos com mais um resultado das minhas divagações. Pois bem, demorei cerca de 21 anos a chegar a esta conclusão (sendo a compreensão lenta que sou), pelo que cá vai: estar sozinho é incrível. Fisicamente, pelo menos.
Ora, não me refiro a estar solteir@ ou com companhia. Estou mesmo a falar das situações super banais, mas que me dão um prazer extra quando as faço sozinha. Cozinhar com público? Blhec. Lavar a roupa e pô-la no estendal sem ninguém a ver? Meu deus, que rejúbilo.
Confesso que durante algum tempo tinha medo de não saber estar sozinha. Havia quase que uma relação de dependência entre mim e os meus, e o medo de estar a sós com os meus pensamentos era tal que o evitava a todo o custo. O que é parvo - especialmente porque acredito que é nesses momentos que nos conhecemos melhor e arranjamos mecanismos mais eficazes para ultrapassar certas adversidades que surjam. Este acaba por ser um processo moroso e até difícil, mas quando se chega ao outro lado da linha vemos que valeu a pena.
Aliás, se não fosse este trabalho interno de amor próprio (arrisco dizer), acho que não teria riscado tópicos da minha bucket list tão cedo. Por exemplo, no outro dia fui à praia. Fiquei lá cerca de 3h sozinha, apenas a ver o mar e a sentir a areia nos pés (se calhar agora fui demasiado descritiva). Mas foi incrível. Nunca pensei que algo tão simples me soubesse tão bem. Uma praia deserta, a minha pessoa, uma toalha e um livro ou uns fones et voilá. A única parte chata foi quando vi 14 (sim, uma dúzia e mais um bocadinho) de pombos a caminhar na minha direção. Esse momento foi meio arrepiante.
No geral, fiquei surpreendida. Sentia-me plena e, mesmo que de forma paradoxal, acompanhada. Afinal a minha companhia não era tão má quanto pensava.
Outro exemplo de momentos incríveis passados comigo e mais ninguém é estar em casa. As tarefas domésticas já abordei ao leve no início do texto, pelo que acrescento agora as minhas idiossincrasias. É que eu sou estranha e, apesar de revelar partes da minha estranheza na Internet, gosto de manter certas loucuras próprias no desconhecimento.
Resumindo, concluindo e baralhando, apesar de ser uma tentativa de borboleta social que goste de se inspirar nos outros e fazer parte de momentos felizes, acho igualmente importante (e necessário) fazer um esforço para manter essa felicidade apenas comigo. Não sei se posso chamar a isto amor próprio ou narcisismo... Egoísmo, talvez? Também não sei. A única certeza que tenho, de momento, é que saber estar comigo permitiu-me alcançar a paz que achava que só seria alcançada com a convivência com outros.
Será isto a que se chama "uma conclusão da vida adulta"? Isto é sinal de que estou a crescer ou a tornar-me uma velha do Restelo que começou a desprezar interações humanas? Acho que é melhor parar com as divagações e ter a tua ajuda para chegar a uma resposta mais sensata. Ficarei à espera!