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Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Senta-te e Ri

28.03.22, Lástima

Este assunto voltou ao centro da discussão com a bofetada dos Óscares e eu vim juntar-me ao rebanho que disputa um dos eixos da polémica em torno dos limites do humor. Penso que não será preciso contextualizar o que passou, e penso também que nada serve como desculpa para justificar ofensas à integridade física de alguém. Muito menos uma piada. 

Desde quando é que fazer rir, e estar-se em palco a fazer-se rir, é motivo para levar um estaladão? Desde quando é que o estatuto branqueia uma agressão pública como se nada fosse? Não me parece normal que um artista esteja a atuar, seja agredido durante o seu espetáculo, o agressor não sofra quaisquer consequências e ainda é recompensado com um dos maiores méritos da Academia.

Sei que não sou cientista, mas até eu sei que não é com piadas que os tumores ou doenças crescem ou deixam de crescer. O único fator que devia limitar uma piada era se ela, efetivamente, tinha graça, e é nessa subjetividade que se encontra parte da magia humorística. Tentar impor limites pessoais só porque sim é egoísta, injusto e castrador, prejudicando uma arte cada vez mais atacada indevidamente. 

Porque uma coisa são os nossos limites individuais. Eu acho graça a umas coisas, tu a outras, nós a outras em comum ou ainda a umas nada a ver. E isso é bom e válido. Nada nem ninguém nos pode impedir de rir e apreciar a arte que é fazer rir da desgraça.

A desgraça, essa, é um elo que sempre esteve presente na escrita humorística e sempre estará. Seja à custa própria ou alheia, sempre nos gostámos de rir da tragédia, e não podemos usar o politicamente correto como capa protetora (e impeditiva) do riso. Muitas vezes, rir é a única arma que temos para combater os infortúnios, ou apenas para lidar com eles. 

Em vez de te levantares e bateres no comediante que está apenas a fazer o seu trabalho, senta-te. Senta-te e ri da piada.

Hora da aula

06.03.22, Lástima

Da última vez que escrevi aqui (publicamente; ignoremos a quantidade infinita de rascunhos que te escondo), partilhei a minha viagem à cidade Invicta. E, claro, como lástima ansiosa que sou, esta não foi uma viagem qualquer. Foi uma tentativa de presságio sobre uma novidade que espero há coisa de 1 ano: o meu mestrado. 

Na altura em que escrevi os diários de uma recém-chegada, tinha optado por tirar um ano sabático no que toca à vida académica e pôr as chamadas mãos na massa. Queria ver se conseguia arranjar trabalho na área (coisa que consegui após as 59 tentativas que pudeste ler), se me ambientava ao ritmo, à coisa de ganhar o meu próprio dinheiro e caminhar em direção ao estatuto de "mulher forte e independente" que sempre ambicionei ter. Mas uma coisa é certa: eu sempre gostei de estudar.

Para mim, estudar nunca foi uma massada e acho divertido poder encher o meu cérebro com outras informações que não memes e fofocas de reality shows. Foi por isso também que após a licenciatura fui fazendo cursos aqui e ali, para não perder este bichinho e não sentir que a minha cabeça apenas pensava nos afazeres profissionais. Não foi preciso muito tempo até ter percebido que, assim que der, iria arriscar e tornar-me mestre de qualquer coisa (nem que fosse da culinária, em honra do grande Joaquim de Magalhães Fernandes Barreiros). Comecei a procurar as opções que tinha e a filtrar o que gostaria de aprender face as habilitações que gostaria de ter.

E foi assim que encontrei o MCGIC. Nome giro, eu sei. Traduzindo, encontrei o Mestrado em Comunicação e Gestão de Indústrias Criativas na Faculdade de Letras. Do Porto.

Ora, eu sou uma jovem criança setubalense que, mesmo durante os seus anos académicos, não saiu de casa - tenho um comboio que passa a ponte todos os dias, por isso mudar-me seria uma despesa desnecessária. Mas agora esse caso não se coloca.

"Porquê um mestrado tão longe?", podes estar a perguntar. Eu perguntei-me o mesmo, os meus pais também e os amigos idem. E a resposta é simples: foi o único cujas cadeiras me deram borboletas na barriga. E se é para acreditar nesta coisa do instinto, penso que não haverá sinal mais claro.

Feita a escolha, bastava esperar pela fase de candidaturas. 03 de janeiro de 2022. Já tinha a carta preparada, os documentos também e bastou começar a preencher os requisitos que me pediam. Ligeiramente mais pobre - eu ainda estou à espera que alguém me explique o porquê de termos de pagar para nos candidatar a algo sem sequer saber se entramos -, restava aguardar. Até 16 de março, data em que seriam partilhados os resultados provisórios.

E agora estou aqui. Meio que a duvidar todas as minhas escolhas e a calcular se estarei mesmo preparada para qualquer uma das respostas. Caso receba um "não", será dramático. Sinto que esperei demasiado tempo para perceber que, afinal, nada vai mudar e o status quo só me vai mostrar que não sou suficiente para correr riscos e viver a minha juventude ao limite. Caso receba um "sim", será dramático também. Estou mesmo pronta para me atirar de cabeça, mudar de cidade e recomeçar uma vida e um ritmo alucinantes longe dos meus e da normalidade que conhecia? Será que estarei preparada para trabalhar de dia, estudar de noite, morar com estranhos, andar por ruas desconhecidas, morar num quarto sem memórias e deixar de ter por perto os rostos familiares que me acalmam em alturas de aperto? 

Não sei. E sei ainda menos se é boa ideia ter estas dúvidas a 10 dias de ter uma resposta.