Amigos, amigos, séries à parte
Agora com um belo confinamento e o frio característico de dezembro, haverá algo melhor que ficar em casa a ver séries? Pergunta retórica, claro. Eu não sou grande admiradora desta atividade (apesar de o fazer ocasionalmente) e, por essa razão, fiquei inspirada para falar mal de uma série em particular que é amada por todos. Ora cá vai o meu veredicto: F.R.I.E.N.D.S não é assim tão bom.
Sim, sim, eu sei que és capaz de discordar e ficar com uma alta indignação sobre esta minha declaração insolente. Mas não disse nada mais que a verdade. Eu vi todas as temporadas e confesso que fiquei entretida, mas está na hora de tirar esta série do pedestal em que está - especialmente porque promove alguns comportamentos menos positivos e é sobre eles que venho falar. (Sim, eu já sei. Ser maldizente está no meu ADN.)
OS RISOS DAS SITCOMS
Primeiramente, quero abordar o caos que é existirem sitcoms com os risos de fundo. Detesto. Tira toda a piada à coisa. Não só perdemos mais tempo a ouvir risos falsos do que as piadas em si, como também deixamos de conseguir distinguir o que é suposto ser engraçado. Esses ruídos de fundo aparecem de 7 em 7 segundos e quase dão a entender que todo e qualquer momento de uma série tem piada quando, na realidade, não é bem assim.
Uma coisa é um programa ser gravado ao vivo e, por isso, haver um descontrolo no que toca aos risos porque não podemos prever com toda a precisão quando é que alguém vai achar piada a algo. Outra coisa é colocar propositadamente um áudio a rir como se todas as ações narradas fossem divertidas. Não o são, lamento. Muitas vezes, apenas são indiferentes.
Por isso, lanço-te uma pergunta para queijinho: num episódio de F.R.I.E.N.D.S, quantas vezes (aproximadamente) é que te ris em comparação à quantidade de faixas de risos que ouves? Oh sim, agora quero que reflitas sobre a coisa.
Mas este meu rançozinho sobre as faixas a rir aplicam-se a tudo, atenção. Esta foi apenas uma queixa introdutória antes de passar à análise do perfil das personagens.
ROSS
Vou já começar com o pior deles todos: o Ross. Irrita-me profundamente. Compreendo que a personagem tenha sido desenhada como o protótipo do rapaz eternamente apaixonado pela sua crush do secundário, mas ele tem com cada atitude que mostra tudo menos amor.
Ignorando o facto de ele ser o filho favorito e isso ser um motor imediato para alguém ser um ódio de estimação meu, começo por abordar os ciúmes que ele tinha enquanto namorava com a Rachel (numa das 573 tentativas de relacionamento que tiveram). Ora, ter um ciuminho básico é normal quando se está numa relação amorosa, mas chegar ao ponto de tentar impedir a pessoa de trabalhar no seu emprego de sonho só porque ela investe mais tempo nisso do que na relação parece-me completamente absurdo - para não falar da ciumeira descomunal que ele tinha do Mark, um colega que a Rachel fazia questão de relembrar que não tinha interesse e que a sua relação era meramente profissional.
E é neste sentido que chega o grande momento do "We were on a break". Sim, estavam numa alegada pausa na relação, mas eu desconfio que isso não é desculpa para na mesma noite a nossa tão querida personagem ter ido logo para debaixo dos lençóis com uma outra rapariga qualquer. Sorry, not sorry, mas eu sou "equipa Rachel" nisto.
Além do mais, reforço que quando se casaram bêbedos em Vegas e ela lhe pediu para tratar do divórcio, o Ross não o fez e o seu motivo foi não querer ficar rotulado como o homem que se divorciou três vezes. Quão altruísta, este rapaz!
Mas não é só com a Rachel que ele foi incorreto. Até com o próprio filho é ao impedi-lo de brincar com bonecas por considerar que não é coisa de menino. What!? Ah, e quando queria que o babysitter da Emma fosse despedido apenas e somente por ser um rapaz a ter uma "profissão feminina"? Acho que não é preciso dizer muito a este respeito... Ou seja, através deste breve resumo posso afirmar com toda a convicção que, apesar de alguns momentos bons, o Ross é egoísta, machista, preconceituoso e infantil.
RACHEL
Pronto. Já defendi a Rachel mas não é por isso que devemos pensar que ela é santa. A relação com o Ross é altamente tóxica e um dos episódios que mais me marcou sobre a protagonista foi quando convenceu outra rapariga a rapar o cabelo para sabotar um encontro que teria com ele. Amiga, ele não vale nada... Sabotaste uma mana para quê?
Ainda por cima, apesar de o seu trajeto na série incidir sobre a ascensão de uma jovem que quer vingar na vida e não depender de um homem para concretizar os seus sonhos, custa-me particularmente ver as ocasiões em que ela contratou o seu assistente só porque era atraente ou quando tentou seduzir um polícia para se ver livre de uma multa. Deu cabo de toda intenção feminista da coisa, lamento.
JOEY
Ai o meu querido Joey... Tão engraçado, generoso, companheiro. E objetificador de mulheres. Sim, ele é um regalo para os olhos e uma das personagens mais cativantes da série. Só que isso não apaga o facto de ser um derradeiro womanizer. E isso, pelo menos para mim, não tem piada.
Acho que a personagem do macho encantador de fémeas se tornou tão repetida e sem graça. Para não falar que apenas perpetua a ideia de que os homens se podem divertir com várias mulheres e serão vistos como reis, enquanto o cenário inverso resulta no escrutínio social. E antes que alguém comente que quando ele se apaixonava era respeitador, eu remato com o seguinte: por que é que ele também não o poderia ser com amigas coloridas?
MONICA
Quem acompanhou a série sabe que a Monica é, digamos, especial. Germofóbica e com uma obsessão por limpezas aliada à sua história sobre ser ex-obesa, seria de esperar que esta personagem fosse compreensiva no que toca a idiossincrasias e momentos de recuperação. Pois... É tudo muito bonito até chegar o momento em que sabota a jornada de sobriedade do "Funny Bob" apenas porque se aborrece com ele no seu estado não alcoólico. Um motivo mais que válido para arruinar o percurso de quem luta contra o alcoolismo, portanto.
Mas este não foi o único episódio em que a irmã Geller deixou o seu egoísmo sobressair. Ainda tenho uma memória bastante viva sobre o episódio em que a personagem impedia a Phoebe de brincar com a sua casa de bonecas. E porquê? Porque as brincadeiras da Phoebe iam contra o que ela achava que era brincar corretamente. Eu sei que a Monica é a "mãe" do grupo, mas isso dá-lhe permissão para demarcar como alguém se deve divertir?
A propósito, é demasiado tarde para relembrar que estas pessoas estão na casa dos 20?
CHANDLER
Esta carinha laroca acima é a minha personagem favorita. Talvez por me identificar com o seu sentido de humor, constante sarcasmo e interesse pela área da publicidade, ganhei um carinho especial ao Chandler. Mas ele que não pense que se safa, porque também tem a sua parte menos boa e é isso mesmo que eu vou esmiuçar.
Se eu no tópico Joey o repreendi por ser mulherengo, ao Chandler vou crucificá-lo por maltratar constantemente a Janice. Está bem, ela é chata, carente e pode ter mil e um tiques enervantes. Mas nada justifica um constante desprezo a uma pessoa que tanto o amou e, no fim de contas, só lhe deseja o melhor.
PHOEBE
É sabido que a Phobe é um espírito livre que vive sob as suas regras e gosta de quebrar tudo o que é conhecido como normal. Mas será que isso justifica o seu furto? Qual é a linha que separa a individualidade do crime? Ah pois, não nos esqueçamos do momento em que roubou um dos seus melhores amigos, o Ross. Eu sei que ela teve uma vida difícil e teve de lutar muito para chegar onde chegou. Por outro lado, quão diferente teria sido a situação se ela apenas tivesse pedido ajuda e não se virasse para a concretização de delitos?
E quando ela e o esposo decidiram doar todo o seu dinheiro do casamento para a caridade e depois acabaram por o querer de volta? Inúmeras vezes até. Não é um momento particularmente feliz, admitemos. As boas intenções estão lá, mas, no final, nada de solidário acabou por acontecer.
Por último, quero afirmar que tenho consciência de que esta série foi estreada na década de '90 e que os tempos mudaram. Mas a exibição mantém-se e os seus valores também. Por isso, não compreendo totalmente o argumento que obriga a situar o programa à época, até porque, desde então, pouca coisa mudou. Apesar de este texto ter como base os defeitos do elenco de F.R.I.E.N.D.S, não significa que eu tenha deixado de gostar da série num modo geral. Só acho que não é tão espetacular quanto fazem crer. Mas esta é só uma opinião em milhões, por isso, se discordares de mim, és mais que bem-vind@ a escrever o que pensas aqui em baixo ou no nosso Instagram. Fico à tua espera!