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Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

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Amigos possíveis

16.06.21, Lástima

Amizades. Conhecidos como a família que escolhemos, os amigos são elementos insubstituíveis na nossa vida. Normalmente, são os motores das aventuras mais bizarras e memoráveis - especialmente se houver álcool incluído. Porém, sinto que a obtenção de novas e diferentes relações de amizade se vai estagnando com o passar do tempo. Se na creche bastava apenas dar uma tapa na cara de alguém e pumba, amizade para a vida, o passar do tempo impede esta interação tão clara e normativa.

Hoje em dia, pelo menos para mim, fazer amigos é uma grande incógnita. Eu sei lá o que estou a fazer! Penso demasiado nas circunstâncias que me rodeiam, analiso todos os cenários possíveis e imaginários de interação e tento sempre equivaler a energia do outro, esquecendo a minha individualidade. Por isso pergunto: como raio é suposto fazer amigos numa idade mais "adulta"?

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Antes tínhamos a sorte de ter muletas de interação social. Era o professor que nos sentava em determinado lugar e o nosso colega de carteira era, por norma, o parceiro dos intervalos, furos, horas de almoço e quotidiano no geral. Se não fosse isso, a vida encarregou-se de nos apresentar a noite. Não tenho consciência de como todas as amizades funcionam (sendo eu também um bicho do mato), mas consigo desmistificar já que a vida noturna é um potenciador de amizades para quem tem pipi. Basta ir à casa de banho.

Oh sim, está na hora de revelar um dos segredos mais bem guardados da Humanidade. Quem diria que bastava um heterónimo armado em blogger para te contar isto. Sabes por que é que as pessoas com útero têm a tendência em ir ao wc em conjunto? Podia ser para participar em batalhas de dança com desconhecidas. Podia ser para retocar a maquilhagem. Mas não é nada disso. É para dar elogios a todo e qualquer ser que lá entre. Juro! Mal abres a porta peganhenta, entras num éden repleto de musas alcoolizadas que, acima de tudo, querem que saibas que és uma rainha poderosa. E isso é incrível.

Depois, para quem não está na condição solteira, também existem os amigos da cara-metade. Uma vez que as relações amorosas costumam funcionar por osmose e pela máxima "o que é meu, é teu", os amigos de um transferem-se para o outro (nem que seja apenas durante o período do namoro).

E além disto? Só me lembro destes cenários no que toca à construção de amizades e sinto que nenhum dos três se encaixa nesta fase da minha vida. Agora sou uma jovem trabalhadora a dar os primeiros passos no mercado. E não consigo compreender como é que se fazem amigos no ramo. Nem se é suposto fazer.

O que mais me aflige é o facto de o contexto laboral ser um universo paralelo àquele que eu vivo. Tenho de fingir que sou super competente e eloquente quando, na verdade, tenho um sentido de humor de pai, os passos de dança de tia e a preocupação de avó. Não sei se estas características devem transparecer dentro da minha entidade empregadora. 

E como é que se socializa com um colega quando o que nos une é o ofício? Não parece meio estranho, passados meses de trabalho, de repente ir ali perguntar "Olha, qual é a tua cor favorita?" ou "Leite ou cereais?" Qual é a linha que traça a cordialidade e uma relação fora do tempo útil? Pois não sei. Se tiveres alguma reposta (ou sentires que esta dor também te atormenta), partilha os teus pensamentos comigo. Fico à espera!

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