Diário de bordo de uma recém-chegada
episódio 2
Visto que, com a estreia desta série (que, para quem não leu, começou aqui), eu me senti uma verdadeira super-estrela da blogosfera, está na hora do tão aguardado segundo episódio. Contudo, quero já "despressionar-me" da coisa e dizer que não garanto que este diário de bordo seja tão bem recebido quanto o anterior. Primeiro, porque eu agora sinto que tenho de corresponder às expectativas e isso enerva-me. Segundo, porque, desta vez, ao invés de histórias peculiares, trago injustos relatos que tenho vindo a apontar nesta minha experiência. Se vai ser um texto mais anticlimático e irritadiço que o esperado? É bem provável. Mas eu nunca disse que era sensata.
Esta semana venho em modo "Livro de Reclamações", por isso é melhor passar já à parte que interessa. Isto pode demorar.
EXCLUSÃO ANALFABETA
Lidar com a rejeição não é fácil. Isso já todos sabemos. Mas ser rejeitada por uma entidade que escreve "á" em vez de "à" custa ainda mais. Quer dizer, ando eu a candidatar-me a cargos cujos requisitos obrigatórios envolvem uma excelente expressão escrita e domínio da língua portuguesa para depois receber um e-mail a dizer que não tenho competências suficientes para passar "á" próxima fase? Eu sei que não sou a última coca-cola do deserto, mas dói-me na alma enfrentar este tipo de coisas.
FUSO HORÁRIO ÍMPAR
Eu não sei se o meu calendário é diferente do das entidades empregadoras, mas serei a única que já reparou que, quando informam que irão contactar no dia X nunca o fazem? Anda aqui uma pessoa feita louca a dar refresh na caixa de e-mail, a ver se tem Internet ou se a MEO não está a falhar porque pode ser que liguem entretanto a dar uma resposta como combinado para depois passar o dia com os nervos em franja e na mesma incógnita de sempre - mas agora com mais queda de cabelo, que isto de andar ansioso faz mal. No fundo, não passa de um maroto ghosting, para a manuntenção de um eterno espírito de Halloween.
EM BUSCA DE FEEDBACK
Infelizmente, o melhor cenário que encontro quando não fico com a vaga para a qual me candidatei é a receção de um e-mail automático a dar a nega. E isso entristece-me. Não tanto pela rejeição (que continua a não ser agradável), mas mais pela falta de linhas-guia que me permitam crescer e melhorar determinados aspetos para candidaturas futuras.
Já sabemos que a vida é feita de "sins" e "nãos", mas se não nos forem dadas ferramentas para conseguir detetar o que estamos a fazer menos bem será improvável conseguir sair da bolha em que nos encontramos. É que não custa assim tanto...
O VÍCIO DO CÍRCULO
Está na hora de falar do óbvio. Acredito que todos saibam isto, mas cá vai: para ter experiência na área é preciso que se dê uma oportunidade às pessoas. Chocante, não é mesmo? Parece uma coisa tão lógica, mas depois vai-se a ver e a principal desculpa de rejeição das empresas é o facto de não termos experiência profissional no cargo e que, por isso, vão contratar alguém que já a tenha. Pois bem, se para ganhar estaleca é preciso que alguém o permita, então uma pessoa nunca conseguirá sair deste ciclo vicioso. Se é um risco contratar alguém que ainda não teve a possibilidade de exercer no cargo a que se candidata? É. Mas a vida é feita de riscos e, se nunca se sair desse padrão, nunca se chega à inovação. (Toma lá uma rima só para alegrar a coisa.)
Eu sei que já escrevi isto no post passado, mas repito: nunca pensei que a entrada no mercado de trabalho fosse tão feroz. Uma pessoa estuda e sonha com o dia em que poderá exercer naquilo em que acredita que é mesmo boa e, quando chega a hora, sente que ninguém lhe reconhece o potencial. Encontrar trabalho é uma jornada longa, frustrante e desgastante que leva qualquer um a pensar que não tem valor e que, se até à data, não arranjou nada, é mesmo porque deve desistir. Tenho noção que, ao escrever este tipo de coisas, pareço uma criança a fazer birra, mas a realidade é que estes casos são recorrentes para muitos e sinto a necessidade de encontrar uma explicação.
Especialmente por não ter conhecimentos ao nível da gestão de recursos humanos (ou talent acquisition, para aqueles que gostam mais de usar este nome todo pomposo), tenho imensas dúvidas sobre como decorre um processo de recrutamento, quais os critérios mais valorizados e porque é que continuam a haver este tipo de falhas vistas como faltas de consideração por quem está do outro lado do telefone/computador. Creio que não seja nada fácil ter de decidir quem pode viver o seu sonho e quem irá ficar destroçado e, por isso mesmo, gostava de saber a tua opinião sobre o assunto. Sejas ou não conhecedor@ na área, espero por ti na caixa de comentários. Até lá!