DJ, aumenta o som
Portugal. Lisboa. Queríamos, desejávamos, conseguimos. Com o virar da crise do quarto de idade, esta jovem não tão jovem foi sair à noite. Mas não foi uma saída à noite qualquer - fui a uma discoteca.
Para breve contexto (já sabes que não sei contar uma história sem todo um preâmbulo), eu sou, à falta de melhor expressão, uma tasqueira. Os meus convívios noturnos distinguiam-se pela arte de ficar na mesa de um bar a jogar Jenga e a beber cerveja enquanto as peripécias vinham até mim. Mas, desta vez, quis que fosse diferente. Desta vez, fui abanar o esqueleto ao som de música latina e, muito surpreendentemente, não estava numa aula de zumba.
Parece que o pós-crise existencial fez com que o meu lobo frontal estivesse mais perto de estar desenvolvido e me obrigasse a prestar atenção ao equilíbrio. Estou a tentar ter uma relação mais harmoniosa no trabalho, na saúde e a redefinir certas bolhas e gavetas da esfera pessoal e social. Neste processo de seleção natural de relações interpessoais (yup, cheguei à fase em que "só quero ter pessoas que me acrescentem", super coach motivacional), acabei por deixar um pouco de parte a vida à luz das estrelas. A com sol também, mas agora estou focada na fase lunar. Isto tem de ser à vez.
Quis abrir uma exceção ao meu modus operandi de eremita e fui ao Cais do Sodré. Sexta-feira à noite, zapping carregado e aventura a caminho.
Ao entrar no estabelecimento noturno, tive um vislumbre do que seria a vida na selva adaptada aos tempos modernos. Os fixes e famosos estavam perto do palco, a viver o seu main character moment enquanto dançavam aos rodopios e se abraçavam como se estivessem a viver uma comédia romântica. Os acabados de chegar, mas que se queriam incluir na ninhada, estavam ligeiramente mais afastados e a tentar imitar as coreografias para parecer tudo uma massa homogeneizada, sem esquecer o telefone sempre na mão para poder registar o momento e comprovar a sua presença no dito evento. Os demasiado cool, apesar de terem pago para entrar na festa, passaram o tempo todo no exterior, a fumar o seu IQOS, se pertenciam à classe beta, ou cigarro de enrolar, se fossem do clã alterno. E depois estava eu, meio confusa e a tentar entender o ecossistema.
Pela descrição parece que fui sozinha a uma discoteca, porém a minha jornada de solo dates ainda não chegou a tanto. Fui com um grupo, mas era um claro peixe fora de água e, à medida que a noite avançava, era inevitável que cada um fosse ter com a sua tribo. Foi estranho, mas compreendo que faz parte e não queria forçar o status quo. Isso deu-me duas oportunidades: 1) a de dançar descoordenadamente sem o receio de parecer tola - já que estava sozinha, mais valia abanar a anca - e 2) a de analisar atentamente este mundo com uma lente renovada. Ao início foi constrangedor, mas agora consigo apreciar a liberdade de experimentar atividades fora da rotina com um twist que nem eu esperava.
A música estava boa, o ambiente também e a leveza de não sentir qualquer obrigatoriedade em meter conversa ou tentar provar que era suficientemente fixe para estar ali transformou a saída num objeto que a minha "cabeça de conteúdo" adora. Sinto que, na qualidade de croma, fiz um estudo informal à vida dos jovens cosmopolitas e populares. Não sei até que ponto me acrescentou grande coisa mas, ao menos, posso afirmar orgulhosamente que tentei. Tentei sair da casca, tentei cumprir o ritual de pré-festa a que este tipo de eventos obriga e tentei explorar um universo muito fora da minha zona de conforto.
Com isto, não prometo que vá tantas mais vezes a este tipo de coisas. Mas, parece-me, estou a ficar pro na arte de tentar.