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Eu, Lástima

Rastos de opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Eu, Lástima

Rastos de opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Dúvidas e dívidas

17.03.21, Lástima

Podia pensar numa introdução meio pomposa para abordar este tema, mas hoje apetece-me ir já para o debate. Estou numa vibe Fátima Campos Ferreira, só que a puxar para a imparcialidade. Então vamos lá. Literacia financeira: uma competência que deve ser adquirida nas escolas, pela família, através de iniciativas do governo...? Onde, como, quando e porquê?

Para mim, coisas como o IRS são uma incógnita. E isso é preocupante: não só porque tirei ciências socioeconómicas no secundário e devia ter retido nem que fosse alguma da informação, como sou uma jovem adulta a entrar na vida de mulher independente e empoderada e, afinal de contas, vejo que não tenho quaisquer conhecimentos sobre a escola da vida.

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Desde gaiata que vejo pessoal da minha geração a afirmar com toda a convicção que a escola não ensina o que deve ser ensinado. Economia do lar, pagamento de impostos, etc. são, a seu ver, matéria essencial que tem de ser ensinada pelos professores e não captada com o passar dos anos só porque sim. Um ponto bastante válido. Mas depois pergunto-me: é realmente suposto? Pelo que me fui apercebendo, de acordo com a minha experiência, o propósito da escola (e do conhecimento académico no geral) é oferecer bases que nos permitam desenvolver um pensamento crítico e criterioso sobre as nossas ações e crenças no quotidiano, que nos permitam evoluir enquanto sociedade e, em última instância, aprofundar conhecimentos em áreas de estudo que nos cativem - super filósofa caviar que fui agora, não fui? Claro que matérias como a declaração de impostos são bastante importantes, mas acabam por se desviar desta finalidade retida que se me entrou pela cabeça.

Por outro lado, também concordo que a escola é um espaço de formação que deve preparar os seus estudantes para o futuro, e os aspetos mais práticos da vida devem estar incluídos no programa curricular. Todo este conjunto de, vá lá, soft skills se assim o quisermos chamar, não podem ir para debaixo do tapete com a suposição de que eventualmente saberemos o que estamos a fazer. Se aprendemos tanta coisa, por que não acrescentar esta também?

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É que tenho vindo a ver que este é um desconhecimento geral. Tanto pessoas da minha idade como mais velhas têm dificuldades em temas como o pagamento e declaração de impostos, sendo que essa ignorância, a meu ver, não me parece um ponto dificilmente resolvido. Seja criar uma disciplina própria e fixa a todos os cursos ou incluí-la noutras como educação cívica (a título de exemplo) parecem alternativas adequadas para evitar este problema. Caso a escola não seja o lugar "ideal", os próprios municípios têm o dever e responsabilidade social em educar a sua população, creio. Felizmente, moro num concelho cuja Divisão da Juventude organiza workshops neste sentido - desde desmistificar a problemática dos recibos verdes a formações sobre poupança. Modéstia à parte, Setúbal é uma cidade bastante dinâmica e sapiente (oh para mim a usar palavras caras só para me armar).

Sei que no início admiti que era uma iletrada neste aspeto e não o digo de ânimo leve. Aliás, até o admito com alguma vergonha. Sempre que vou à Segurança Social Direta e carrego num botão, tenho um pequeno imperador romano na minha cabeça com o punho à frente e eu até tremo enquanto espero para ver se o polegar vai para cima ou para baixo. E acho que esta não devia ser a sensação de alguém que apenas quer sobreviver e integrar-se na vida adulta e alegadamente responsável.

Eu tenho a sorte de ter pais com conhecimentos no assunto e um namorado a caminhar para rapper-contabilista. Mas há quem não tenha. E estas informações deviam ser de fácil acesso para todos. Por isso, qual a melhor solução afinal? Debates comigo este assunto? Pode ser que cheguemos a algum lado.

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