Parabéns... para mim?
Não sei se consegues acreditar, mas é verdade. Estou a ficar velha. Hoje marca o dia em que me nasceu mais uma ruga na testa e um cabelo branco só mesmo para celebrar a minha entrada nos 21 anos. Yey. 21. Aquela idade em que achava que teria a minha vida orientada mas, afinal, não poderia estar mais confusa e perdida no oceano profundo que é a vida adulta. Mas pronto. Não é de crises existenciais que quero falar. Já sabes que não vou para nova e que, daqui a nada, mais vale começar a preparar a minha inscrição num lar de idosos. Contudo, antes que comece a ficar cheché, achei que seria giro enumerar situações que me fazem comichão no miolo no que toca à celebração de aniversários no geral.
1 MINUTO E 36 SEGUNDOS DE PURO SOFRIMENTO
Vou começar já pelo mais óbvio e acho que, com apenas 3 palavras, sabes do que estou a falar: canção de parabéns. Oh sim, vamos lá relembrar o quão constrangedor é ter de ficar a ouvir os nossos amigos e/ou família a cantar aquela música que, vá se lá saber porquê, começa lentamente e acaba à pressa. (Na verdade, eu desconfio que quem a está a cantar também não o quer fazer e, por isso, acelera o ritmo das palmas para que a música termine o quanto antes).
Claro que este podia ser apenas um pequeno momento menos confortável durante o dia, mas o problema repete-se várias vezes. É de manhã ao acordar, é ao almoço com os pais, é ao lanche com a cara-metade, é ao jantar com os amigos. É tanta vez que mais parece que, em vez de um ano, estou a ganhar sete. Ah, quase me esquecia! E quando temos aquele primo em França com quem mal falamos mas que nos liga no aniversário somente para cantar ao nosso ouvido a bela da cantilena? (Não? Sou só eu?) E, se a cantiga já não é má o suficiente, segue-se logo o momento em que alguém grita "discurso, discurso" como se nascer naquele dia fosse algo de grandioso ou, então, pede para cantar a outra.
"Obrigado meus amigos do fundo do coração por me terem cantado esta linda canção"
Depois disso, ainda há quem continue a achar piada à tradição louca que era morder a vela e gritar debaixo de uma mesa enquanto se pede um desejo. Não sei quanto a ti, mas ainda não me apareceu o génio da lâmpada que tanto preciso.
PIADAS FOLEIRAS SOBRE A IDADE
E há sempre aquele momento clichê em que se ouve algum comentário que mais parece um ritual obrigatório de passagem para se ser socialmente aceite naquela faixa etária:
"18 aninhos? Cuidado que já podes ir pres@!"
"Olha, olha, 21 anos. Agora sim já é legal na América!"
"Estou a fazer 50 anos, já viste? Atingi meio século."
"25? Já? Então mas onde é que andam os filhos? E o casamento?"
"Ai, amiga, agora que fiz 40 nunca mais saio dos -entas. Só quando fizer 100!"
SURPRESA? SÓ QUERO SE FOR UM KINDER
Não sei quanto a ti, mas eu detesto festas-surpresa. Quer dizer, gosto de as fazer, não gosto de as receber. Sempre tive aquela ideia stressante de que o dia de anos de alguém tem de correr de forma perfeita para que a estrela do dia esteja feliz em todos os momentos. Por isso, não consigo gostar da ideia de uma pessoa fingir que se esqueceu do aniversário de outrem em prol da festa à noite. Claro que a intenção é giríssima e o desvendar da festa ainda mais - mas acho que passar o dia a sentir-me miserável e achar que todos se esqueceram de mim não consegue ser apagado pelo fator-surpresa do evento. Aliás: saber que os meus amigos me estão a preparar uma festa deixar-me-ia mais feliz do que passar um dia inteiro a sentir que não sou amada (nada dramática, portanto).
MENSAGEM EXPRESSO
Esta é mais outra tradição que eu ainda não percebi se faz ou não sentido: tu também tinhas o alarme ligado para a meia-noite porque querias ser a primeira pessoa a mandar o típico testamento de aniversário ao teu amigo? É que eu sim. Eu era essa louca que acordava a meio da noite só mesmo para enviar uma carta previamente feita e guardada no meu bloco de notas com o intuito de fazer o protagonista do dia sentir-se especial. Parte de mim acha isso fofo mas, com a velhice, veio também a valorização do sono e, por isso, deixei-me dessas coisas e passei a enviar mensagem aos aniversariantes quando acordasse ou me lembrasse disso.
FAZER ANOS NAS REDES SOCIAIS
Hora de falar mal do digital como velha do Restelo que sou. Se há prática corrente e que me irrita no que toca ao aniversário de alguém é a redação de um post no Facebook a agradecer todas as mensagens de aniversário. "Porquê?", perguntas tu, a transbordar curiosidade (pelo menos é que prefiro imaginar). Ora, primeiramente acho que esse tipo de publicações não passa de um lembrete passivo-agressivo do aniversariante só mesmo para relembrar indiretamente as pessoas que, por qualquer motivo que seja, não lhe mandaram uma mensagem a desejar os parabéns. Segundo, também dá a sensação de que a pessoa está a ostentar o facto de - alegadamente, atenção - ter recebido imensas mensagens. Tantas que nem foi possível responder a tudo. (Calma, campeão! Tu não és a Helena Coelho.) Por fim, esses posts são altamente impessoais: então os teus amigos/conhecidos/desconhecidos/seguidores/o que quer que seja deram-se ao trabalho de te desejar um feliz dia, tu dás "vista" e depois fazes uma publicação no dia seguinte a agradecer à generalidade? Eu não gostaria que me fizessem isso.
Como o Facebook não é a única rede social que me enerva, também quero falar do Instagram - mais propriamente dos insta stories. Eu sei que contra mim falo, mas acho que são poucos os que percebem que, quando fazemos anos e um amigo partilha fotos e vídeos connosco na sua página, o público-alvo disso somos nós. Chocante, não é? Claro que quando uma querida faz anos quer mostrar ao mundo que tem os melhores amigos e que se sente grata, porém, enquanto estava a pensar sobre este post, apercebi-me que estamos só a escarrapachar na tela dos outros o quão somos um floco de neve especial. O que acaba por ser um tanto ou quanto desnecessário - até porque toda a gente dá skip na nossa página por 48h só mesmo para evitar mais um gabanço.
E como a idade já não perdoa, quase de certeza que me escaparam algumas coisas sobre o grande dia da celebração do nascimento de cada comum mortal. Por esse motivo e não qualquer outro, incito-te a comentar o que pensas na fofinha caixa de comentários ou no belo do Instagram (já estou a falar como se estivesse na meia-idade, não estou?). É aceitar que já não dou para a caixa.
Já agora: há aqui mais alguém que partilhe este dia especial comigo?