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Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Portal da Queixa 2.0

21.10.20, Lástima

A vida até pode conseguir ser bela e amarela, mas admitamos: nem tudo é um mar de rosas. E como eu já percebi que a vocação deste blog é ser o meu livro de reclamações de assuntos mundanos e que parecem não interessar a ninguém (apesar de uma parte de mim preferir acreditar que existem mais lástimas rabugentas neste mundo cruel, mas foram apoderadas pela vergonha), decidi listar alguns ódiozitos de estimação que tenho perante a generalidade humana.

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AÇACINAR A GARMÁTICAH

Doeu ler isto, não doeu? Acabaste de presenciar um homicídio qualificado perante a língua portuguesa. Honestamente, nem sei se me entristece mais do que irrita. Fico na constante dúvida se o que sinto cada vez que vejo uma calinada é uma dor forte no abdómen ou fumo a sair-me dos ouvidos.

De vírgulas a separar o sujeito do predicado, acentos mal dados, acrescentos de letras que não deviam ser acrescentadas, não distinção entre uma palavra com ou sem hífen, formas verbais mal conjugadas até à criação de um novo léxico, tudo isto me faz esbugalhar tanto os olhos de choque que mais parece que eles vão explodir. Claro que todos somos humanos e cometemos erros (eu também os faço), mas há uma diferença entre uma mera gafe e ignorância. E isso, meu caro leitor, é-me imperdoável.

Talvez por eu me ter formado em comunicação e ter uma paixão tão intensa pela escrita que me dói mais na alma sempre que vejo alguma metamorfose errática no que toca a ortografia, gramática e até fonética. Mas não consigo evitar. Especialmente com a facilidade que temos através dos corretores automáticos, como raio é que há tanta palavra mal escrita?

Ah, e não me posso esquecer de uma das espécies raras que mais assassina a língua portuguesa: aquelas pessoas que passam a vida a dizer que a disciplina que ensinaria estes trogloditas a expandir o seu vocabulário é totalmente inútil porque - e prepara-te para um dos argumentos mais wtf de sempre - somos portugueses e, por isso, já sabemos falar português. Como se isso fosse condição obrigatória para dominar uma língua, Sandro! Pois é. Há serzinhos que acreditam mesmo nisto. Mas depois escrevem ouvis-te em vez de ouviste...

COMPORTAMENTOS HUMANOS AUDÍVEIS

Claro que este tópico tem um nome muito vago, mas vou agora explicar. Estás a ver quando alguém bebe alguma coisa, está a comer ou engole em seco? Eu fico doida a ouvir isso. Se sei que é algo completamente natural e incontrolável porque não podemos apenas diminuir o som do nosso mastigar? Sei. Mas se dá cabo de mim conseguir ouvir toda a formação do bolo alimentar? Dá. E muito.

Parte de mim até se sente mal por ficar tão irritada com algo tão comum. Uma coisa, claro, é ouvir o mastigar de alguém sem maneiras e que prefere comer de boca aberta - coisa terrível que, para mim, era alvo de pena de prisão. Outra coisa é uma pessoa estar no seu canto, a comer com bons modos mas, ainda assim, fazer um barulhão. O meu "eu" racional sabe que não é por mal. Só que o meu "eu" emocional entra em parafuso e foge a sete pés do sítio onde está só mesmo para não sofrer mais.

DIÁLOGOS INTERROMPIDOS E CONVERSAS EM MODO "DISCO RISCADO"

Eu sei que as interações humanas não funcionam com monólogos. Mas se há coisa que me faz perder as estribeiras é que me interrompam. Sempre ouvi dizer que quando um burro fala, o outro baixa as orelhas, por isso não entendo o desplante que alguns seres vivos têm ao interromper o discurso de outra pessoa. É que este ódio de estimação ultrapassa-me. Mesmo quando oiço alguém a ser interrompido fico irritada, não fosse eu uma tentativa de boa samaritana defensora da igualdade. 

Ainda no âmbito das conversas, também perco a paciência com discursos repetidos. Esta irritação acaba por ser um tanto ou quanto hipócrita porque eu devo ter um pseudo-Alzheimer precoce autodiagnosticado que me impede recordar o que digo, de forma que eu própria sou bastante repetitiva. Contudo, não consigo evitar a minha raiva quando falo com alguém que diz sempre a mesma santíssima coisa. Parece que o botão de play na sua cabeça ficou encravado e a variedade de temas para falar ou histórias para contar se dizimou. Repetir uma vez é normal. Repetir duas, apesar de chato, continua compreensível. Repetir 40 vezes? Já não me é suportável. 

RAIVA RODOVIÁRIA

Por muito chocante que possa parecer, dada a extensão e conteúdo desta lista, eu nem odeio trânsito. Apesar de não adorar, não é algo assim tão mau para mim porque gosto demasiado de conduzir e qualquer pára-arranca se torna suportável quando se tem boa música. Contudo, porém, não obstante, o que me chateia são maus condutores.

Eu sei que posso não ser propriamente uma Maria Teresa de Filippis mas sei, por exemplo, que quem sai na terceira saída de uma rotunda não a deve fazer por fora e que os quatro piscas não se tornam num manto de invisibilidade quando se está parado em segunda fila.

Como podes reparar, sou uma pessoa bastante paciente e pouco irritável - numa realidade alternativa, só pode. Provavelmente até ficaste com a sensação de que estar comigo ao vivo deve ser um suplício porque odeio tudo. Isso até está perto da verdade, mas prometo que, quando estou de bom-humor, consigo ser mais simpática e tolerante. Se, por outro lado, tiveres alguma queixa a acrescentar, és mais que bem-vind@ à caixinha de comentários e/ou ao nosso Instagram. Espero por ti!

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