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Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Eu, Lástima

Opiniões, histórias e desabafos de uma lástima ambulante.

Senhor Chófer, por favor!

09.09.20, Lástima

Depois de ter escrito sobre 3 dos anos mais marcantes da minha vida, reparei que houve um grande pormenor que deixei escapar. Melhor, não o deixei escapar - eu não tinha espaço para contar tudo o que sinto sobre ele. Por fazer parte do dia-a-dia de tantos de nós, agora numa altura de supostos recomeços só faria sentido desabafar contigo algumas das peripécias que já sofri na sua presença. Enfim, vou-me deixar de rodeios porque está na hora de falar do suplício dos transportes públicos.

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Ora, como lástima lastimável, nos meus tempos de faculdade tinha o privilégio de frequentar, em média, 74 meios de transporte, fazendo um total de pelo menos 3 horas de viagem todos os dias (sim, estas 3 horas que te conto não são exagero). Por esse mesmo motivo, e multiplicando com os meus 3 anos em Lisboa, consegui viver muitos episódios caricatos naquele que é o mundo encantado das viagens coletivas.

COMBOIO 

Para começar, lembro-me já de estar no comboio - com a minha bela cara de zombie que acordou às 5 da matina e só queria voltar para o vale dos lençóis - e encontrar uma bela mademoiselle na estação do Fogueteiro a cortar as unhas dos pés dentro da minha carruagem. Sim, leste bem. Cortar. As unhas. Dos pés. Dentro do comboio. Até podia ter sido um sonho motivado pela minha privação de sono, mas (felizmente ou infelizmente) não fui a única a testemunhar aquele espetáculo de horrores.

Mas nem todas as senhoras no comboio são surpresas desagradáveis, atenção. Também já tive a sorte de ter uma velhota simpática a oferecer-me e à minha amiga podcaster - esta referência quase podia ser um momento patrocinado, mas é promoção espontânea, prometo - rebuçados. Ah pois! Ela gostou dos nossos ares simpáticos e quis-nos dar doces. Adorável, não é? Ou macabro? Na verdade não sei, porque nenhuma de nós tocou neles com medo de estarem envenenados, mas sinto que tanto uma como outra prefere manter na memória o gesto simpático do que a potencial tentativa de homicídio qualificado.

E para terminar a coletânea de histórias aleatórias no comboio, conto-te da vez em que esta querida desequilibrada em todos os sentidos estava a sair do dito meio de transporte e caiu. Podia ter caído para a frente ao sair da carruagem. Podia ter tropeçado num degrau sem ninguém ver. Podia ter feito tanta outra coisa não fosse eu um desastre com pernas. Pois bem, aqui a amiga, com o parar do comboio, estava em pé e caiu para trás, derrubando a pessoa que estava na fila, que derrubou a seguinte e assim sucessivamente. Resumidamente fui a autora de um efeito dominó humano que, ainda hoje, me dá vergonha alheia.

AUTOCARRO

Agora que te contei as minhas aventuras na linha férrea, está na hora de passar para os circuitos rodoviários, começando já pela primeira vez que andei de autocarro sozinha em Lisboa. Sendo, como referi, a minha primeira vez a lidar com o passe suburbano, tinha muito pouca noção dos caminhos que precisava de percorrer para cumprir a minha maratona diária de transportes públicos. Desse modo (como seria de esperar), entrei no autocarro errado. Quer dizer, eu tinha acertado no número do veículo. Mas errei no sentido. Resultado? Perdi-me em Lisboa e tive a oportunidade de conhecer o 751 Linda-a-Velha, onde me deparei com uma criança a entrar à pica e um velho a dar-lhe um raspanete. Okay, eu sei que o que te contei é muito pouco ou nada entusiasmante, mas acreditarias se te dissesse que, sem mais nem menos, eles começaram à pancada? Quando dei por mim, estava dentro de uma lata com rodas a assistir na primeira fila para a nova edição de UFC.

Fora este episódio traumatizante, as minhas viagens de autocarro nunca variaram muito. Desde a sobrelotação que me obriga a estar colada à axila mal-cheirosa do vizinho, à música aos altos berros dos mitras que ainda não sabem da existência de fones e às discussões emocionantes das peixeiras que pensam que o autocarro é o sítio ideal para ter dramas dignos de novela, a vida de um passageiro rodoviário consegue ser mais rotineira. Ah, mas não me posso esquecer daquele velhote que, de todos os locais, pensa que o banco do 723 Algés é onde deve descascar as suas laranjas.

Parece-me que hoje é tudo o que tenho para te dizer. Eu sei que não mencionei o metro, mas fico à espera que sejas tu a contar-me histórias absurdas que tenhas vivido nele ou noutros transportes que não apareceram aqui. Ou mesmo nestes - afinal de contas, cada transporte público é um portal para desgraça. Espero por ti aqui nos comentários ou no nosso Instagram para partilhares comigo os teus episódios. Até lá!

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